Acervo de Sivuca foi parar no Recife
Dizem as folhas pernambucanas que a Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, recebeu as mais importantes partituras do mestre Sivuca, doadas pela viúva, a também cantora e compositora Glória Gadelha. O material que estava guardado no apartamento do casal, em João Pessoa, passará agora por uma catalogação para depois ser colocado à disposição não só de pesquisadores, mas do público em geral.
A diretora de documentação da Fundaj, Rita de Cássia Araújo, informou que, além das pesquisas, o material vai ser trabalhado em forma de exposições, catálogos e livros, depois de digitalizado o acervo. Conforme depoimento da viúva Glorinha Gadelha, esse era um desejo do artista. Entre as partituras reunidas agora - escritas a lápis ou caneta, pelas mãos do compositor - estão as originais completas de Feira de mangaio, João e Maria, Rapsódia Gonzagueana, Choro de cordel, além de algumas sinfonias para cordas escritas por Sivuca. Rita de Cássia conta que Glória Gadelha aguarda um próximo momento para fazer novas doações. É que a viúva está envolvida com outros projetos que compreendem a difusão da sua obra. Entre elas, a criação de dois memoriais. Um em João Pessoa e outro da cidade de Itabaiana, onde ele nasceu.
Segundo o boletim da Fundaj, o material de Sivuca contará com um reforço no dia da sua liberação para consulta. Será quando a Fundaj lançará no Recife um livro que Glória já lançou em João Pessoa: Sivuca Partituras.
Sivuca afirmava que devia ao Recife a sua formação musical, pois foi ainda nesta cidade o encontro com o maestro Guerra-Peixe, com quem passou a ter aulas. Na memória do sanfoneiro, ficou a permanente recomendação do maestro: “música é trabalho”. Mudou-se aos 15 anos para Recife. Tocou na Rádio Clube de Pernambuco – onde ganhou o apelido – e na recém-inaugurada Rádio Jornal do Commércio. Diz a lenda que ele chegou na sede da Rádio Clube com a sanfona nas costas, e perguntou ao porteiro: “O senhor PRA 8 está?”.
Em Itabaiana, o memorial de Sivuca deve estar pronto brevemente. O problema é a briga entre a viúva e a filha única de Sivuca, a socióloga e escritora Flávia de Oliveira Barreto. Ela coordena o maior projeto de preservação do acervo de Sivuca no Brasil, depois de vasculhar arquivos em institutos de pesquisa, entidades de cultura, meios de comunicação e órgãos públicos no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Material, portanto, tem de sobra para o memorial. Resta saber se, ao final, a memória da vida e obra do mestre não ficará dividida entre Recide, João Pessoa, Itabaiana e a cizânia familiar.