AH, SE MEU TRAVESSEIRO FALASSE...
Mais uma noite em que fui plenamente mulher!
Deixei de lado todas as convenções, me joguei na cama e naquele momento em desespero busquei a meu companheiro, a muito a me esperar. Estreitada a ele me desafoguei, gritei e até xinguei – que louca, quantos impropérios!
Meu companheiro ali, maleável deixando-me toda à vontade.
Meu desvario foi tanto, até o joguei da cama. Arrependida, fui ao seu encontro e o tomei nos braços, trazendo-o outra vez para junto de mim. Igual, a muitas outras vezes o mordi, e quase o estraçalhei!
Extenuaram-se minhas forças, minha cama, eu e meus pensamentos em desalinho!
Busquei, manhosa, aconchego junto ao meu memorável companheiro de cama, o encharquei!
Minhas copiosas lágrimas foram uma a uma sorvidas pelo meu nobre companheiro, que as filtrava deixando a superfície confortavelmente tíbia, onde repousava minha cabeça atormentada pelos percalços do dia. Aos poucos minha mente foi serenando e recolocando os pensamentos nos seus devidos lugares.
No silêncio do quarto eu me colava mais e mais àquele fiel companheiro. Que parecia dizer ao meu ouvido com voz de alcova: "Acalma-te nina, mas, se queres ser plenamente mulher, chora, grita e pode mesmo até xingar”.
Ah, meu querido travesseiro lembro-me bem do dia em que te comprei!
E seguramente tu te lembras do meu primeiro surto de mulher!
Ah, se meu travesseiro falasse...
Melhor não!
Como os do gênero masculino ele também, não me escutaria,
E nas noites em que a vontade de chorar não dá pra aguentar, por suposto do quarto sairia!