Segundos de fama

Reza a lenda, que um jovem e belo rapaz, recusou-se a casar com uma bela Ninfa, e os deuses o condenaram a autopaixão. A patológica situação de amar-se desesperadamente demais. Todos nós devemos ter uma dose de amor próprio além do amor dedicado aos demais. Para Freud, essa é uma ação necessária na espécie humana, desde os tempos “in útero”, mas dentro de um limite, que não extrapole o patológico. No caso do belo e jovem Narciso, a paixão foi tão forte e intensa que ele resolveu casar-se consigo mesmo. Como revelou ser impossível a união acontecer, Narciso, que passava horas de namoro com sua imagem na água, morreu afogado, ao tentar fazer amor com seu reflexo.

Nem a invenção do espelho, despertou tanto narcisismo como as invenções de redes sociais na Web, e máquinas fotográficas digitais. Basta dar uma circulada entre as redes sociais mais difundidas no mundo virtual para se ver as fotos, na imensa maioria das vezes autofotos, mostrando que o Narcisismo está tão fortemente dominando, que não se credita a ninguém a foto. Lá está a bendita foto, desfocadas, mal enquadradas e mal feitas, do rosto da pessoa, ou de uma protuberância sensual que queira mostrar. Colocam milhares de fotos e não mudam a pose, no máximo, a roupa, e voltam para a mesma pose, e clicam o mesmo ângulo, do braço esticado e a mostra, ou ainda pior, diante do espelho, para além do Narcisismo, exibir a marca da câmera, para arrasar a concorrência.

Desde antes destes modernos se criou varias formas de um simples mortal tornar-se lenda, ou virar celebridade, dizer que era deus na terra, ou até fazendo coisas memoráveis, como Gilgamesh, Ciro, Alexandre, Davi, Sócrates, Nabucodonosor, Salomão, Jesus, entre tantos, que passaram para a posteridade como personagens fortes, quase questionável a existência para além da imaginação. Depois escrever livros, atuar em cinema industrial, músicas ou novelas, viraram o mote do século XX, quando se chegou a produzir ícones dignos de reinado, do pop ao campo de futebol.

Mas são historias da era das navegações que pega uns famosos hoje, os papagaios de pirata, alcunha dada aos caroneiros da fama. Quem antes buscava quinze minutos de fama, agora se contenta com quinze segundos. Umas das mais badaladas celebridades da atualidade, são jogadores de futebol, para ficarmos num exemplo, onde sair com um jogador famoso, mesmo que numa noite apenas, rende capas e mais capas de revistas de fofocas e fotos em revistas masculinas. A busca pela fama cria casos patológicos, alguns não resistem.

Basta um pé na calçada de uma pessoa famosa, e vira manchete. Mas se sabe que são os próprios, na maioria das vezes, quem divulga fotos, textos, ou noticias, criam casos e depois negam, armações simples para ganhar manchetes, e talvez levar mais um papagaio com eles.

J B Ziegler
Enviado por J B Ziegler em 10/07/2009
Código do texto: T1692895
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