A MAIOR DAS INVENÇÕES
A maior das invenções não foi a roda. Essa já existia nos frutos redondos, nos seixos rolando, nos cortes dos troncos. A maior das invenções foi a gaveta.
A roda até move o mundo, mas é a gaveta que guarda histórias (e estórias) em quadrado ou em retângulo; é um dos últimos depósitos de lembranças, embora, pareça que em breve não mais se usará essa sua função de guardar fotos, bilhetes e aquelas coisas sem importância que marcam cada uma das esquinas que dobramos.
Fotografia de papel. Quando você acariciava, ela olhava só pra você que depois de retribuir o olhar, guardava-a na gaveta, Desse tipo, hoje, não se usa mais. É digital. Do computador pra Internet. Não dá pra acariciar. Duma vez só, ela olha pra milhares com um olhar estrábico que quem quiser pode mudar. Se der crepe, apagou, não tem backup? Não tem mais!
Recado da namorada. Era pra você só. Lia, relia, amarrotava o papel, decorava cada palavra e guardava na gaveta. Desse tipo, hoje não se usa mais. É email pra cá e torpedo pra lá. O texto foi pra você, mas... "uns mil também leu". Se der crepe, apagou, não tem backup? Não tem mais!
Só mesmo uma gaveta pra guardar “aquele toco de lápis que ela mordeu na aula de matemática; pr'aquele lenço com o batom que ela usava na primeira vez que vocês foram ao cinema.; pr'aquele relógio quebrado que...” Para todo esse tipo de coisas ainda serve uma gaveta. Mas, isso, somente se esse tipo de carinho ainda fizer parte das estranhices da mocidade atual. Mocidade? Palavra antiga que também não se usa mais. Vou trocar por outra senão pensarão que sou preconceituoso e por isso tenho dúvidas se a galera sente as coisas do mesmo modo que esse meu "de antigamente" que se esconde nas entrelinhas do primeiro ao último parágrafo.
MORAL: sem gavetas, só conheceríamos a história por ouvir dizer.