Gente grande
Há cerca de vinte anos estive, pela primeira vez, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. UAU!!! Foi esta a palavra que usei para resumir esta aventura. Lembro-me de andar por suas alamedas e, a cada estande, deter meu olhar nos livros que se descortinavam ante minha visão estupefata.
Lá estava eu, um jovem de 20 anos, acompanhado de minha irmã Alessandra, diante de um mundo que nos fascinava, dentro de uma cidade imensa, sendo engolidos por tudo que nos rodeava: pelo barulho, pelas pessoas, obras, livros, conversas paralelas e pela oportunidade de estar lado a lado com os nossos ídolos escritores.
“E o verde violentou o muro”...
Loyola estava lá e minha irmã, sua grande fã, queria muito um autógrafo seu (feito que só veio realizar 19 anos depois, aqui em Jundiaí, num evento em que participou da organização). E também estavam Paulo Coelho, em início de carreira literária; Rita Lee com o seu livro infantil, Lygia Fagundes Telles e uma infinidade de escritores que não mais consigo me lembrar.
Foi uma experiência que mudou nossas vidas e que determinou aquilo que iríamos fazer a partir de então. Mas eu nunca sequer imaginei que pudéssemos chegar aqui, de onde agora escrevo este texto, no nosso estande na Bienal de 2008.
Na cabeça daquele menino de vinte anos a hipótese de estar participando desta mesma Bienal, com a sua própria editora em um estande, com mais de cem livros publicados, inclusive com alguns autorais, era um sonho inimaginável.
É, minha irmã, muita coisa mudou desde aquele dia. “Os sonhos não envelhecem”, já dizia Milton e Lô Borges, só a gente é que adquiri cabelos brancos, experiências e saudade; aliás, muitas saudades...
Ando por esta Bienal e vejo você menina, alucinada, encantada, querendo ver e ser vista. Ando por estas alamedas e ainda ouço a sua voz me alertando sobre este ou aquele livro e sei que você aqui está, ainda admirada, só que desta vez você se admira da semente que um dia plantou e dos frutos que hoje colhemos.
Daqui de onde estou agora, escuto os ecos do passado e a voz de uma cidade parada, nos aplaudindo e incentivando com palavras e gestos de amizade e orgulho. Orgulho de estar fazendo parte de tudo isso aqui. Orgulho de ver seus escritores participando desta grande festa.
Olho no olho de cada escritor que aqui comparece e percebo no seu olhar o mesmo brilho que nós dois tínhamos há vinte anos atrás e que eu espero ainda ter. Vejo-os autografando seus livros e sorrindo de felicidade, abraçando um leitor, que até então era desconhecido, como um velho amigo.
E digo mais, cada gesto, cada olhar de gratidão que por parte deles se dirige a mim, eu os envio a você, aí onde estiver, assistindo a este jogo incrível que é a vida, que nunca pára e me impulsiona para a frente. Sempre.
Rádios, jornais, revistas, sites, televisão... todos eles estiveram aqui e nos estrevistaram, filmaram, parabenizaram, aplaudiram e incentivaram.
É, Alê, acho que viramos GENTE GRANDE. Depois de tão longa, árdua e compensadora jornada... Quem diria! E você nem aqui está, uma tristeza que infelizmente carrego, mas, querida irmã, este sucesso também é seu, esta estrada pode não mais ser sua, mas você ainda faz parte dela.
Outras trilhas ainda hei de trilhar, novos caminhos desbravarei, mas estar aqui, hoje, põe-me sem palavras. Então, só me resta agradecer...
Dedicado a todos que indireta ou diretamente contribuíram para a participação da Editora In House na 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo; a toda a cidade e a população de Jundiaí; à imprensa local por todo o apoio; à Deus, por julgar-nos merecedores e permitir tal feito e a todos os nossos amigos escritores, razão do nosso existir.
Obrigado, do fundo do meu coração.
Márcio Martelli