O JATO
O JATO
Osni Silva
-Fulano tenho notado um ar triste em seu rosto. O que foi? Algum problema muito sério ou somente uma falsa impressão minha. Somos amigos e colegas de trabalho há tanto tempo... pode confiar em mim para desabafar algum dissabor.
-Sim, realmente ando muito preocupado. As tais coisas com as quais nunca nos havíamos preocupado há tempos! Recentemente venho pensando muito. Deve ser a idade ou os males de “aposentados”, que tanto irritam e baixam nosso astral.
-Muito bem, continuei perguntando: mas o que é que tanto te aflige? Problemas familiares?
-Não, nem tanto, mas que preocupa não há dúvida. A gente fica matutando.
-OK., mas afinal o que é?
-Pense bem amigo, vou-lhe relatar:
era um jato firme, bonito, saudável de dar inveja. Era tiro e queda, não falhava, uma máquina perfeita!
Passaram-se os anos como você sabe, o peso da subida da serra foi surgindo e, hoje,
preciso levantar a tampa do vaso para não molhá-la e também ter cuidado para não atingir minha calça, parece aquele chuveirinho tímido, encabulado... a máquina tá emperrando e aquele jato forte de urina já era... cedeu lugar para esse chuveirinho!...
Sim, meu amigo, já fui ao médico.
Estou voltando de lá agora. O negócio é mesmo velhice...
Ele, na minha frente, abriu o envelope contendo o resultado do exame e, laconicamente, sem mais nem menos, afirmou ainda bem, o aspecto ecográfico é de Hiperplasia Benigna da Próstata.
É..., é, amigo, como ele disse: - poderia ser pior!...
Poderia ser maligno, já pensou?
-Amigo, num sofre não, eu também já estou com meu chuveirinho...
É a idade! Concluiu ele com um tapinha nas costas.