Um Céu Estrangeiro
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Brasileiros! Nunca desistem de homenagear quem está além de suas fronteiras. São, talvez, a materialização do complexo de inferioridade que circunda os mares do fracasso. Para quê Drummond, Machado de Assis, se eles têm Willian Young, Stephanie Mayer? É curioso ou no mínimo estranho que mais de 80% dos livros vendidos hoje no Brasil são de escritores estrangeiros. Será que os brasileiros são mesmo tão ruins escritores que não conseguem fazer com quê seus próprios conterrâneos os leiam? Claro que não, tem muito mais imaginação e informação para passar no país do samba do que um livro inteiro onde é abordado um assunto tão óbvio e abstrato como no livro The Secret de Rhonda Byrne, onde 183 páginas podem ser resumidas em uma frase: “Pense positivo!”. Esta grande descoberta (para não dizer: grande habilidade na publicidade) chegou a liderar por meses os tops de livros não-ficção no Brasil. Basta! Que episódio dessa literatura perfeita além das fronteiras poderá se comparar ao imaginário e improvável adultério de Capitu, no exemplar romance do “péssimo escritor brasileiro” Machado de Assis, Dom Casmurro?
Não que os escritos estrangeiros sejam ruins, mas a consciência brasileira deveria ser muito mais patriota. Deveriam ler um João Cabral de Melo Neto enrolados na bandeira do Brasil, ao invés de ler “O Código da Vince” e cuspir no hino ao mesmo passo que renegam a religião que outrora os servia como símbolo.
O que dizer então da música brasileira? Das grandes Britney´s e Beyoncé´s que substituem hoje um Caetano, um Luis Gonzaga... Melhor que isso: O rei do pop! O plástico do corpo de Michael Jackson parou de respirar em uma tarde, e quando o sol, no outro dia aqui no Brasil, mostrava seus primeiros raios, uma notícia já alegrava os brasileiros: “O Governo do Rio de Janeiro vai colocar uma estátua do cantor Michael Jackson na laje onde ele filmou, em 1996, no morro Dona Marta...” Talvez no momento em que esta notícia chegava ao além, Renato Russo, Tim Maia, Jamelão, Cartola, Cássia Eller, Cazuza, Heitor Villa-Lobos, para não citar outros, sentiam uma enorme vontade de nunca terem nascido ali. O brasileiro tem uma incomensurável e patológica mania de exaltar quem não é de seu próprio berço.
Esse descaso com a literatura e com a música brasileira reflete-se em várias vertentes desse país de quarto mundo, como pensam seus habitantes. Seja no futebol, na moda, na beleza, nas crenças, ou até mesmo no modo de falar, nunca os brasileiros são os exemplos, ou melhor, os bons exemplos.
A verdade é que existiram e ainda existem vários estrangeiros que merecem ser louvados como John Lennon na música, Shakespeare na literatura, mas nunca deveriam ser postos no lugar de quem já honrou tanto o seu povo como Tom Jobim, Ariano Suassuna.
Eu não sou brasileiro, sou uma pessoa que nasci no Brasil, vivo no Brasil, mas amo meu país, e a mim, falta ainda uma nomenclatura.