Princesinha do meu coração
Eu te amo ainda, Princesinha do meu coração. Querida Timbaúba dos Mocós, a “Princesa Serrana”, lugar onde nasci e me entendi de gente. Naquele tempo, tu eras a terra dos calçados, conhecida no mundo todo. Dizem que um novo rico brasileiro comprou sapatos em Paris. Chegando aqui, foi mostrar o belo e caro par de sapatos, descobrindo a marca “made Timbaúba – Brasil”. Ficou puto!
O hino da minha terra chama-a de “Timbaúba altaneira”, uma besteira que todo hino municipal tem. Mas aos meus ouvidos soa com um significado especial. Capital da mata norte de Pernambuco, terra de Jader de Andrade e do dramaturgo Luiz Marinho. Cabeça de linha de ferro, nos antigamentes Timbaúba era ponto de reunião de tropeiros do sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Depois virou cidade, cresceu junto com sua vizinha e rival Itabaiana e hoje está entre os municípios que superaram as adversidades e promoveram o desenvolvimento. Empresas de grande porte, como a usina Cruangi, sustentam a arrecadação municipal de Timbaúba que um dia pertenceu à capitania hereditária de Itamaracá. Hoje tem mais de 60 mil habitantes, superando em tudo a velha Itabaiana que parou no tempo.
Tantas lembranças de Timbaúba! O carnaval de rua, os Toureiros com Fá de porta-bandeira, linda! O povo foliando atrás do bloco das Virgens, na frente desfilava a puta Lu Pintada, a rainha do cabaré, linda e livre mostrando as calçolas para as puritanas. Naquele tempo, no bloco das virgens só desfilava mulher, naturalmente todas descabaçadas.
Na praça João Pessoa, o coração da cidade. Lembro das retretas no caramanchão, onde se revezavam as bandas rivais Euterpina e a Pé de Cará. Não esqueço do cine-teatro Recreios Benjamim, onde pela primeira vez me vi à frente da mágica teatral e nunca mais me recuperei do êxtase. Nessa praça fica a Igreja, remetendo às festas do mês de maio.
Meu pai Arnaud Costa trabalhava na tipografia de Sebastião Costa, onde se rodava o “Timbaúba Jornal”. Aprendi a ler distribuindo os tipos móveis nas caixetas das fontes. O cheiro de tinta de impressão ainda hoje me acende a nostalgia timbaubense. Posso dizer que criei os dentes numa tipografia. A notícia do meu nascimento foi estampada nas páginas do velho “Timbaúba Jornal”, que meu pai sempre foi um tanto exagerado.
Minha avó materna nasceu no bairro dos Mocós, o mais antigo, que deu nome à cidade. Eu nasci na rua do Sapo, olhando para o rio Capibaribe Mirim, abençoado por Nossa Senhora das Dores. Em Mocós, a tradição é a confecção artesanal de rede de dormir. Vozinha Biu foi redeira.
Ao meu primo poeta Jessé Costa pedi emprestado o verso abaixo, como fecho desta croniqueta recordativa do meu torrão natal, tecendo a fina renda de minha saudade. Qualquer dia desses vou visitar Timbaúba. Será um retorno a mim mesmo, mas como dói! Canta, Jessé!
E ante as águas do rio
Capibaribe Mirim
Por Pedras e catabim
Essa cidade emergiu
Lá dos Mocós se expandiu
Virou princesa serrana
Dos bois, das redes, da cana
Oh Timbaúba altaneira
Tu sois a musa primeira
Que o me peito proclama!