O ASSALTO
Sem perceber que era vigiado, ele sacou cinco mil reais no caixa eletrônico do Bradesco, na Avenida Bandeirantes.
Sua mulher, no sexto mês de gravidez, aguardava-o no carro, ali perto, a mão no ventre e os olhos fechados, como que a comunicar-se mentalmente com o filho.
Ele logo retornou, acomodou-se no banco do motorista e passou todo o dinheiro para ela - que o guardou imediatamente na bolsa em seu colo - depois ajeitou o cinto de segurança, deu a partida e conduziu o veículo pelo trânsito barulhento, rumo ao serviço na Rua Rui Barbosa.
Uma moto o seguia, cuidadosamente.
Eram sete e trinta de uma manhã azul e ensolarada de inverno, a cidade a agitar-se, como de costume, com as pessoas saindo para o trabalho, para a escola e uma miríade de lugares, de acordo com o desejo e a necessidade de cada uma.
O dinheiro sacado era para pagar o salário dos quatro funcionários, o aluguel do prédio da empresa e a fatura do telefone, embora houvesse outras tantas dívidas por saldar.
E assim, após ziguezaguear pelas ruas da cidade, ao som de Victor e Leo, eles chegaram à “Milennium”, empresa de assistência técnica para computadores, instalada no simples, mas aconchegante prédio marrom no meio da quadra.
Tudo então aconteceu muito rapidamente. No momento em que ele estacionou e desligou o carro para descer, o motoqueiro parou na porta ao lado da sua mulher e com a arma apontada diretamente para a sua cabeça, ordenou brutalmente que ela lhe entregasse o dinheiro que havia guardado na bolsa, sacado há pouco no caixa do Bradesco.
Como ela hesitasse, tomada pelo pânico, o marido interveio e pediu, calmamente, que ela obedecesse. Ela abriu a bolsa, retirou de lá os cinco mil reais e passou-os ao ladrão, que os guardou no bolso da calça jeans desbotada e, ainda com a arma apontada, pediu que o marido dela se aproximasse e lhe entregasse a corrente e a pulseira de ouro, no que foi prontamente atendido. De posse das jóias e do dinheiro, o bandido aconselhou a não o seguirem, manobrou a moto e saiu em disparada, desaparecendo para sempre na esquina seguinte.
Ela tremia e chorava incessantemente dentro do carro. Ele correu ao seu encontro e abraçou-a, para acalmá-la. Acorreram para ali os funcionários que acabaram de chegar e também os vizinhos, que pouco viram e puderam fazer. Ela, entre soluços, lamentava a perda do dinheiro, ganho com tanto sacrifício. Ele também lamentava a perda do dinheiro, mas consolou-a dizendo que o mais importante de tudo era estar vivos, e que, com certeza, Deus olhara para eles naquele momento e os ajudaria a recuperar a soma perdida, com mais trabalho e novos fregueses, não deveria se esquecer do Salmo 107, que diz: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre”.