Madrugada

Não ligava para o frio. Mãos no bolso da japona de lã, gorro azul na cabeça, combinando com o agasalho, caminhava decidido.

Existem poucas armas que se comparem com a Walther P.38. Qualquer arma de fogo mata, mas esta parece a mais assassina de todas. Talvez pelo fato de ser usada por oficiais nazistas, que treinavam tiro nos judeus.

Era um profissional do crime, fora contratado para matar uma mulher.

Acompanhou seus passos, dia-a-dia. Conheceu os lugares que frequentava, seu modo um tanto audacioso de dirigir a Porsche. Já havia, há muito reparado no seu corpo, no seu entender, perfeito.

O homem que o procurou era um destes idiotas que pensam no dinheiro e na ostentação. Errou, exibindo a mulher, alguns anos mais nova do que ele, a todo o grupo que fazia parte. Existem lobos rapaces, sempre procurando carne nova. Foi o que exatamente aconteceu.

Uma amiguinha do idiota contou a história toda, naturalmente querendo a sua parte.

O homem viajava muito, a negócios. Sempre que isto acontecia, a mulher era literalmente devorada por um também idiota conhecido do seu cônjuge.

Isto é comum. Mas o matador não estava interessado em fatos comuns, ou morais. A quantia acertada garantiria um bom conserto na sua casa de praia, em Piratininga, distrito de Niterói.

Ela saltou do táxi, em frente ao edifício do amante.

O antigo sargento paraquedista, expulso da força por motivos de maus tratos aos seus subordinados, tendo ferido um gravemente, e suspeito também de desviar munição para vender aos traficantes, penou no presídio.

Queria recuperar o tempo perdido.

A mulher chegou na hora certa, conforme ele havia previsto, Entrou no edifício com o carro, conforme o costume, e pegou o elevador que a conduziu ao sétimo andar.

Fechaduras são fáceis de serem abertas. Para quem sabe,

Quando entrou, ela estava nua, sendo mexida e tocada pelo outro idiota que encontrara. O combinado era matar os dois.

Mediante um acordo rápido, conseguiu do idiota preço assustador; ninguém quer morrer de graça.

Hoje moram juntos, ele e ela na maior harmonia. Jamais quis saber de outro homem: seu matador havia se transformado no mais querido amante.

Estas coisas acontecem, e no submundo da vida, são muito comuns.

Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 08/07/2009
Código do texto: T1688786
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