Série "Ditados na berlinda" 17: Quanto maior a altura, maior o tombo?
A partir do momento que descobri que a frustração é uma das causas de nossas tristezas, ficou muito mais fácil eliminá-la do cotidiano: basta nada esperar de quem quer que seja e tentar não fazer planos - viver um dia após o outro, não levar gato por lebre e ir devagar com o andor, pois se presume que todo santo, nesse caso, é de barro. É, parece fácil, mas não é tanto assim.
Decepções são comuns, mas não deveriam. Primeiro porque não temos o direito de esperar atitudes ou performances das pessoas, e nem caminhos determinados de coisa alguma. Se aceitamos o fato de que a vida é o caos, como podemos querer que tudo corra sobre os trilhos, sem desvios de rota? Deveríamos nos lembrar sempre que o imponderável impera em todos os setores de nossas vidas, e assim, sem expectativas, não sofreríamos nunca as tão destrutivas decepções.
Porém é fato consagrado que planejar a viagem faz parte da grande emoção de viajar. Assim como o cheiro bom do pão assando no forno nos antecipa delícias, todos nós geramos expectativas, ainda que ocultas, sobre pessoas e acontecimentos. Quem é que vai imaginar que o lugar que escolhemos para nossas férias é infestado por mosquitos, que o pão queimará, ou que a pessoa por quem esperamos por uma eternidade não mais virá? Impossível não fazer associações imediatas entre as delícias anunciadas e o prazer que elas nos proporcionarão. E quando as coisas não acontecem como esperamos (ou como desejamos), os acontecimentos tomam rumos inesperados ou as pessoas não são exatamente como seu invólucro (externo ou interno) nos fazem crer que seriam... então, sofremos.
Temos, assim, duas escolhas com relação à altura em que nos colocaremos para a fruição da expectativa: ou subimos apenas até o terceiro degrauzinho, abrindo mão da adrenalina e da bela visão (ainda que onírica) que teríamos se fossemos ao topo da escada, mas evitando uma queda que poderia nos escangalhar; ou então escalamos a montanha até seu cume e rezamos pedindo que lá em cima o ar não seja rarefeito para que não tenhamos tonturas.
Porém é bom lembrar: muitas vezes, abaixo do sopé da montanha ainda existe um abismo... nesse caso, meus amigos, se houver uma queda, ela será duplicada, em altura e em intensidade! E não restará uma costela inteira, nem pra fazer uma Evinha anã.