No cotidiano tudo é palanque, tudo é vitrine.

No dia em que fiz aniversário, concordei plenamente com você nisso de considerar que vivemos num planetinha verdadeiramente maluco. É gente sinistra que não sabe o que fala mas não perde a oportunidade de se fazer ouvir, por vaidade ou caduquice ou pela cegueira que o brilho dos palácios produz. Onde já se viu simplista sabedoria ou tamanha ignorância de que óleo sobre o mar é sinal de que não houve explosão. Talvez não se saiba o que é "flash-point" ou no bom português, o ponto de fulgor. Onde fica a sensibilidade ao se iinsinuar diante de todos, inclusive de parentes sofridos, que seus entes queridos poderiam ter tido os corpos abocanhados por tubarões famintos. E o que falar do ufanismo hipócrita que diz que podemos encontrar petróleo no mar a seis mil metros de profundidade, e que portanto, encontraríamos uma caixa-preta de uma aeronave?

O discurso para povão atinge as raias da sandice ou nos quer fazer passar por dementes? A sensatez iletrada nunca soube o que é uma sinclinal, uma anticlinal geológica, uma onda sísmica. Nada entende da prospecção do petróleo e não tem a menor sensibilidade para avaliar proporções.

E por aí vai o malabarismo que nivela por baixo reforçando a simbiose entre o poder e a miséria. Dá pena ver um povo que cada dia mais se encalacra nas facilidades do endividamento induzido para manter funcionando um sistema econômico falido para que se cumpram acordos entre o poder e a oligarquia da indústria.

A nova escravidão não tem tronco, nem pelourinho ou chicote. Ela se instala pela anulação do homem que passa a receber benefícios que não o libertam, mas o tornam dependente direto das políticas do seu "benfeitor" demagogo. Essa política casuísta, do "toma-lá dá-cá", de quem passou um século procurando apenas negociar a transferência de rendas entre classes sociais, sem nunca talvez ter se questionado se no mundo Capitalista em que vivemos a maior remuneração não decorre da maior habilidade ou competência. De quem não entendeu plenamente o Socialismo e que ao querer praticá-lo só se concentrou onde ele copia do capitalismo a parte mais vil e mesquinha, qual seja a "reificação" do homem, fazendo dele, homem, somente o produtor/consumidor, meio de circulação de valores materiais e sustentáculo para as ambições em uma pretensa democracia de fachada que só vigora na retórica.

E os desequilíbrios se acumulam e se agravam na fluidez de tudo que faz de tudo tão efêmero - pela incapacidade de deter a marcha dos fatos, pela complexidade, pela rapidez ou pela morosidade das transformações. É o eterno "ganhar no grito", a prevalência das versões e das palavras sobre os valores e sobre os fatos.

Há poucos meses se disse que a crise financeira não chegaria ao País e era apenas marolinha. Quando veio e produziu seus efeitos, por isso ser inevitável, através de pronunciamentos homeopáticos, no xadrez do dia-a-dia, eram apagadas as palavras ditas com o recurso do eufemismo das desculpas ou na tergiversação dos argumentos. E também dizem que as palavras sobre as gafes e as precipitações são somente interpretações que não condizem com as intenções.

Enquanto isso as cidades se enchem de carros sem ter os necessários investimentos públicos em avenidas e ruas, estacionamentos, viadutos, passarelas, transportes coletivos decentes, metrôs etc. e passam a ser estressantes e contra-producentes - o cansaço, os atrasos, o desconforto e a perda de tempo não são computados como fator de usurpação da qualidade de vida. E tudo vai acontecendo como se fosse a consequência do "progresso" ou o próprio progresso.

Não me surpreendo ao reler o que escrevi há pouco tempo atrás por se parecerem letras mortas, escritas em passado remoto!. De lá para cá já dominaram os meios de comunicação a crise nas instituições, a blindagem no Senado; a morte do Pop Star que até após a morte oferece a milhões de outras pessoas um show como nenhum faraó teve em seu enterro; aconteceu uma crise política em Honduras que eriçou de políticos a poetas e repercutiu na imprensa não pela sua dimensão mas por se mostrar oportunidade para defender a ideologia da representatividade de uma maioria absoluta mesmo que as 'minorias' ignoradas correspondessem a mais de quarenta e cinco por cento de pessoas descontentes ... e hoje se diz que buscamos uma oportunidade para reavivar as relações diplomáticas quando para a ruptura se disse que a decisão era bem fundamentada e estruturada.

Desconsidera-se que em nome da democracia praticou-se atos de extrema violência no Iraque e hoje se declara que a guerra acabou - e deixou para trás um país totalmente destruído e altamente conturbado e violento; em nome da democracia e para protegê-la aprofunda-se o conflito que se desloca do Afeganistão para o Paquistão; as eleições no Iran já saíram do foco e sobre Gaza já não se fala; os conflitos na Coréia são e deixam de ser a maior ameaça a depender da conveniência do momento político sem que se perceba mudanças reais nos fatos geradores dos conflitos; foi a gripe suína que veio e se foi sem permitir que se enxergasse a evolução da dengue que grassa. E tudo só vale mesmo pelo casuísmo e pela notícia, pela retórica e pelo sopro breve das palavras.

Onde fica mesmo Pasárgada?