A mala
Edson Gonçalves Ferreira
Encontrei o Menino sentado em cima da minha mala. Perguntou-me para quê tanta coisa. Expliquei que ia me encontrar com os poetas lusitanos. Ele retrucou que eles só esperam a sua pessoa e não tantas lembrancinhas. Expliquei que são coisas para acariciar o coração. O Menino olhou bem nos meus olhos e disse: _ Só esse seu olhar de criança carente e amoroso é um presente.
Meus olhos encheram-se de lágrimas e, então, falei para o Menino que Ele me conhece mais. Sorriu, enigmático e disse: _ Mas Eu sou o Filho Dele e, portanto, sei tudo de tudo. Atrevido, respondi: _Aí é que mora o perigo. _ Eu sei - respondeu-me ele -- agora, por exemplo, você está em agonia. Quem não o conhece, não percebe.
Enquanto ele falava, lembrei-me da Susana, da Malu, do Miguel, da Isavel, do Evônio, do Eugênio, da Isabel, da Anabela, da Dulcinéia, da Edyth, da Tera, da Anabela, do Abílio, do Zé Albano e dos outros que me esperam. Sou tão simples que, na maioria das vezes, tenho medo de que eles se decepcionam com um meninão crescido que chegará, cheio de sonhos.
Neste momento, ouvi uma gargalhada e, quando olhei para o Menino, Ele brincava de roda com o Peter Pan, com a Emília, com Narizinho, com Pedrinho, com o Pequeno Príncipe, com a Branca de Neve, com o Saci-perêrê, com a Gata Borralheira, com a Alice e, no meio da roda, estava o Michael Jackson sorrindo de felicidade, porque, agora, ele está em paz ao lado do Menino Deus.
Divinópolis, 07.07.09