Uma esperança chamada Vitória

Recife esta desabando em águas e testemunho tudo pela janela é chuva de surfar cachorro. Trabalhei insistentemente até às 8h da noite. E quando meus olhos começaram a latejar em sono resolvi ir embora.

Ganhei as ruas em busca de um banco e o mais próximo fica no Shopping Boa Vista, a agora que chuva deu uma certa trégua é melhor apressar o passo para sacar o último suspiro da minha poupança. Que não me poupa nada. Vinte reais era tudo que eu queria, passei o cartão no caixa eletrônico e esperei pelo dinheiro. O caixa deu uma engasgou-se e a grana não saio. Fui consultar o meu saldo e vi que era impossível sacar o dinheiro, eu tinha R$ 19,99, na conta ou melhor, na trave, e o caixa só possuía notas de 20 para meu horror.

Um minúsculo desespero tomou conta de mim – e agora o que fazer? Tenho que bolar um plano – pensei, enquanto andava feito cego dentro shopping. Comecei a bolar estratégias que prestassem. Pois não tinha um real no bolso e como eu poderia voltar para casa. Então eu avistei meu amigo de trabalho, Phillipe Camarão e mais uma garota em sua companhia que estava mais para namorada ou futura paquera. Havia um sei lá o quê nos dois. E eu não ia atrapalhar eles naquele clima, eu estava todo desconcertado pelo fato da vida me aprontar mais essa. Sai do shopping e ganhei as ruas, chovia, mas parecia que era só em mim.

Lembrei que mais adiante havia um posto de gasolina e lá tem um caixa 24h. Que sempre nos salvam de enrascadas ou favorece sua situação para um assalto. Eram nove horas da noite. Andei por vinte minutos embaixo da chuva até que avistei o tal posto de gasolina. Passando pelo ar condicionado e todos os playboys que comiam hambúrgueres – e eu morrendo de fome – fui direto ao caixa que estava vazio. Passei o cartão e para mim surpresa, só havia cédulas de vinte. Que azar. E pela primeira vez tive essa sensação de não saber para onde ir, a quem pedir ajuda e o que deveria fazer. E agora camarada? Pensei, estou preso na cidade em que nasci.

Andando cabisbaixo como um gato de banho tomado, seguia, decifrando códigos e planos para resolver essa situação. Até que me lembrei de Vitória, uma certa amiga que conheci a pouco tempo, um dia desses tomamos uns porres e eu já alto pedi para dormir na casa dela. Foi legal ver o Recife amanhecendo de cima. Ela com certeza irá me ajudar, procurei o orelhão mais próximo, e nada, seu telefone estava desligado.

As gotas de chuva caiam em ritmo violento. Vitória não atende o telefone e só há um canto que ela possa estar nessa hora. O Bar do Timão. O céu troveja escandalosamente, as biqueiras viram minhas inimigas, minha roupa encharcada não me oferece mais esperança nem segurança ao frio. Eu não tinha outra saída, o jeito é passar pelo Bar do Timão no Beco da Fome. E lá foi eu, imaginando já a risada que Vitória iria dar, eu queria vê-la de novo e minha esperança tinha esse nome. Naquele momento seu a encontra-se seria minha Vitória a esse dia azarento. Os óculos molhados dificultavam minha visão, meus sapatos pisavam na poça com gosto.

Cheguei aos pingos no Bar do Timão e nada de Vitória, e agora José? É só disso que eu me lembrava. Foi quando me lembrei do único super-herói que estaria em casa naquele instante. Samarone Lima, um velho amigo e devorador de livros. E nas horas vagas salvador de minha pele e outras enrascadas como essa. A distância entre o bar e a casa de Sama – é assim que eu e muitos o chamam – eram mais quinze minutos de chão e lá vou eu novamente, pela avenida úmida.

Ao dobrar a segunda esquina encontro novamente Phillipe Camarão na parada de ônibus, essa era minha chance. Dessa vez não polpei esforços e fui. Ele podia me ajudar. Camarão tomou um baita susto ao me ver todo molhado e sem um pingo de riso na cara e a mocinha que estava ao seu lado só faltou gritar, eu estava mais para um Jaison de sexta – feira 13 sem a passagem de ônibus de que para um colega de trabalho. Ele falou que estava sem grana já que usava vale eletrônico. Me deu cinco centavos, sorriu, e me desejou boa sorte.

Faltando duas esquinas encontro Ana Paula, outra amiga. Ela perguntou se eu queria carona, olha só, depois de tanto sofrer e chorar na chuva. Finalmente Deus atendeu minhas preces, quando eu perguntei se ela estava indo sentido zona sul ela disse que ia para o norte. Meu sorriso de felicidade foi por água abaixo.

Voltei a andar na chuva e pisando num monte de poça d'água até chegar ao edifício Capibaribe. Perguntei se Samarone estava e o sindico disse que sim. Ufa! Finalmente uma dentro. Subi e me encontrei com ele – cheguei com uma crônica prontinha – falei – é? Cadê? Respondeu – eu sou a própria crônica. E então expliquei toda história tintim por tintim. Ele me emprestou dez mangos e Aquela nota na minha mão soou como um golaço do Santinha no Sport. Desci com ele e seguimos em direções contrárias.

Andando a esmo para pegar o ônibus de volta para casa. Minha cabeça começou a ensaiar essa reles crônica. Voltei ao Bar do Timão sentei e esperei me encontrar com Vitória, tomei uma cerveja. Ela não veio, mera Derrota. Fui embora.

Enquanto o motorista do ônibus atropelava os semáforos. Eu pensava no que aprendi durante essa mine odisséia. Os monstros que cuspiam chuvas e falavam relâmpagos, caixas eletrônicos que cantavam como sereias, como a falta um real na sua conta é como a falta de uma bainha para uma espada, as poças rasas de superfície funda, cidade que prende homens assim como na Ilha de Sise para virarem animais de si mesmos e o desejo de simplesmente querer regressar a meu reino, meu habitat, minha casa.

Sempre amei a vida das ruas, detesto chegar em casa cedo. Mas depois disso minha casa ganhou uma importância a mais por me oferecer segurança, conforto, comida e paz de vez em quando. Fiquei a viagem toda com esse pensamento filosófico e romancista sobre o lar doce lar. Ao descer do ônibus a chuva caia novamente sobre meus ombros tão cansados e pesados por causa da minha mochila molhada e ela fez questão de me acompanhar até em casa.

Dedico essa crônica Samarone Lima pelos dez mangos, no fim do mês pagarei. E a Vitória que não veio, mesmo assim ainda a espero.

Aldemir Suco
Enviado por Aldemir Suco em 07/07/2009
Código do texto: T1687540
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