20 dias para meu aniversário
Já faltam só vinte dias...
Lembro quando ainda era dia 1 de Janeiro e pensei "Porcaria, ainda faltam 6 meses!" Acabou passando bem mais rápido do que pensei.
Esse ano vai ser bem diferente dos anteriores, em vários aspectos. Nunca fiz questão de ter uma grande festa, até porque acharia chato. Sempre foi uma comemoração simples, com os amigos, vendo um filme, comendo besteiras e se enchendo de refrigerante, etc.
Mas papai e mamãe já me cortaram - a situação financeira não permite grandes gastos. Não que realmente fosse gastar muito (a lista é pequena):
- Quatro litros de refri;
- Chips/Pipoca/ou qualquer outra besteira bem calórica;
- Filme de terror;
- Qualquer tipo de rojão (quanto mais forte melhor).
Basicamente com isso, nos divertímos o dia inteiro - não precisa de muito mesmo, somos bem simples quando se trata de diversão. Lembro bem no aniversário de um amigo, no qual estouramos um monte de tijolos com oito pequenos rojões grudados com fita isolante.
Não acho que teria grandes gastos, a não ser que fosse comprar uma torta (trinta reais). Coisa que para mim, não faz falta. Se eu tivesse cinco anos faria. Mas tenho 15, prestes a fazer 16.
Então o que realmente faz falta é... uma garota (risos).
Ou talvez, mais precisamente, "a" garota.
Realmente nunca canso de falar dela. Não canso de pensar nela. E dificilmente vou conseguir tirá-la de meus textos por um bom tempo.
Seria no mínimo perfeito tê-la ao meu lado nessa data especial. Também penso em como poderia ser minha última chance. É um exagero, mas até que pensar dessa forma me faz feliz (porque me força a fazer algo a respeito.) Talvez convidá-la pra ver um filme, já que eu não saberia conversar mesmo. E essa falta de esperança em mim mesmo também acaba me forçando a apelar para o mais simples.
Dane-se.
Vou fazer o que calhar.
Tendo isso em mente, creio que acabe fazendo uma pequena declaração.
Afinal, tê-la ao meu lado é, realmente, o melhor presente que eu poderia ganhar. Mesmo que só por um dia. Mesmo que só por algumas horas.
Cinco minutos até.
Lembro bem de antes da paixão, quando olhava para uma garota qualquer e pensava "hum, essa é linda." Hoje, com a figura dela sempre na cabeça, com a inevitável comparação de rostos, pensaria no máximo "bonitinha" da perdedora, tendo ainda aquele sorriso contagiante como meu preferido.
Quanto a isso, vou pensar muito antes de agir - e espero que dessa vez não pense tanto a ponto de não agir. De qualquer forma, vai ser um ótimo 23 de julho. Com ela, será perfeito.
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Como não haverá uma devida festa, creio que, como cairá numa quinta, o comemore devidamente no final de semana. Talvez na sala de aula ocorram algumas brincadeiras do tipo "Com quem será? Com quem será que o Jack vai casar?"
E penso que a colocarão aí.
"Vai depender, vai depender, vai depender se a Carol vai querer."
Talvez algumas pessoas se irritem com esse tipo de zoação; pessoalmente, não me importo. Até acho divertido. Claro que há uma ironia pesada na situação - que um certo rapaz foi achar um depoimento que fiz para ela, talvez carinhoso demais - e resolvera tirar sarro da situação. Só me restou rir, pois ceder à tentação de revidar os comentários só traria mais diversão. Então me calei, enquanto o ritmo das piadas sumia até quase desaparecer.
Quase.
Deixando a parte complexa de lado, penso apenas coisas boas – nunca em minha vida esperei tão ansiosamente por um aniversário. Não o meu próprio.
Ei!
Só agora lembrei dos presentes. Rio ao recordar de quando ansiava pela data visando apenas os bonecos articulado ou que fizessem barulho, e como ficava decepcionada se ganhasse uma camiseta ou uma calça. Ironicamente, as roupas duravam muito mais, pois os bonecos eu retorcia em poucos segundos, testando sua resistência. E geralmente não resistiam.
Agora, (três dias depois de começar a escrever esse texto), estranho como o último sábado fora reflexivo para mim, tanto quanto o dia seguinte, apesar de este ter sido mais cansativo.
No sábado, fui à casa de um amigo, junto de mais outros dois, estourar algumas bombas e ver filmes. Chegando lá, demoramos a entrar na residência – o infeliz tem sonecas pesadas. Tentamos ligar, gritamos, até que enfim nos escutou. Em poucos minutos, já estávamos conversando sentados no sofá, como se já estivéssemos ali há horas. Se havia algum resquício de sono nele, ninguém percebeu. Batemos um papo descontraído enquanto o controle do videogame passava de mão em mão, “relaxando” com um jogo violento e nem um pouco politicamente correto.
Há certo ponto, um dos convidados recomendou que estourássemos as bombas agora, antes do anoitecer, para vermos os filmes mais tarde. Concordamos. Demoramos-nos no videogame, e saímos em seguida.
Então, veio a parte fisicamente cansativa: subir o morro.
Não era exatamente alto demais, nem muito íngreme – ok, talvez um pouco íngreme. Fizemos o caminho de sempre, até uma falha na cerca de arame farpado, que ficava já numa parte elevada a dois metros do chão. Por sorte – ou ajuda de algum pirralho muito determinado -, haviam degraus de areia e grama, desconfortáveis, mas suficientemente bem colocados para que todos passassem sem risco aparente. Feito isso, pegamos pique para a árdua subida, que apesar de durar uns trinta segundos, parecia mais longa. Com esforço, bufando, desviando dos montes de merda de gado (nossa eventual platéia), chegamos ao topo.
Uma maravilha, eu penso. Todo esforço é recompensado, afinal.
É como se aquele morro estivesse bem no meio da pequena cidade de Araranguá – e digo pequena mesmo! Um giro de trezentos e sessenta graus é o suficiente para enxergar todos os cantos do município, até a parte rural. Difícil crer que tenha oitenta mil habitantes.
Ao fundo, a serra. Montanhas rochosas e longas, como um escudo natural da cidade, tão distante que fica azulado e opaco, ainda que lindo. E, a parte mais difícil de assimilar quando vim pela primeira vez: um pouco à esquerda de nossa proteção natural, alongando-se por boa parte do horizonte, o mar! A essa distância, imóvel; senti como se morasse numa ilha.
Ainda naquela primeira vez, que foi no anoitecer, o sol escondia-se atrás da serra, refletindo seu brilho laranja por trás das montanhas, forte o suficiente para oprimir, mas não para fazer desviar os olhos. No meio, aquela bola de fogo, e a seus lados, uma linha amarela e fina, desenhando o contorno perfeito de cada depressão.
Nesse momento, lembrei que o sol é uma estrela. Muitas vezes esqueço disso, mas então me concentrei e imaginei o planeta terra girando ao seu redor em elipses lentos.
Olhei para cima.
O manto negro já cobria parte do céu, onde pontinhos cintilantes e distante – estrelas – me fascinavam. Algumas, li em algum lugar, tem de dez a cem vezes a massa do sol. Entretanto, daqui parecem tão frias e insignificantes.
Voltei a olhar para nossa estrela mais próxima, agora ainda menos brilhosa, deixando apenas um raio forte escapar por entre as imperfeições da montanha, que agora assumia um tom quase avermelhado. Alguns segundos se passaram e o sol estava completamente escondido lá atrás, ainda que sua luz amarelo fraco se misturasse com o azul claro no horizonte.
Cada vez mais aquele azul escuro, quase preto, tomava os céus. O espetáculo acabou, pensei. Foi tudo que pude pensar, estava tão extasiado que mal poderia dirigir uma palavra a alguém.
Ao me virar lentamente para a esquerda, acompanhei o mar estendendo-se até...
Então, outro golpe.
A lua, ascendente por trás do oceano, inchada, clara e alaranjada.
A palavra que consegui pronunciar resumia minha êxtase, mas não a beleza do momento:
- Caralho.
Voltei a pensar, sacudindo a cabeça, tentando me livrar da enxurrada de emoções.
No dia, fora perfeito. Agora, era diferente – ela não estava lá. Isso me entristeceu por um segundo, mas passou. Haviam coisas para explodir.
Vimos o filme e fui embora assim que acabou, pois ainda havia outro acontecimento importante no dia – um show no teatro Célia Belizária, para o qual uma amiga me ofereu um ingresso extra que ganhara.
Para resumir uma longa história:
Fui para a locadora, para casa, tomei banho. Meu pai foi para a casa de um cliente, me deixando sem carona. Com o cabelo molhado, peguei uma jaqueta e corri primeiro de volta a locadora, buscar o ingresso que esquecera (entrei e saí tão rápido que mamãe nem percebeu). Em seguida corri até o destino final. O frio disfarçava o cansaço, mas suei um pouco, forçando minha capacidade pulmonar e muscular – as pernas queimavam, achei que incomodariam por dias.
Não sei como, mas chequei a tempo de descansar, conversar e tudo mais. Em poucos minutos, o coração voltou ao seu ritmo regular e esqueci de toda a correria.
Ao final do show, pensei mais uma vez que todo esforço é de fato recompensado.
Tocaram muitas músicas que conhecia, houveram surpresas, brincadeiras, tudo em um clima descontraído e divertido.
Em casa, exausto, dormi sem nem lembrar como.
Belo dia, belo show.
Tive bons sonhos (e lembro de vê-la em ao menos um deles).
(continua...)