NOSTALGÍA,LEMBRANÇAS E LÁGRIMAS...
Estava eu ontem aqui, posta em sossego,quando a Sky nos brindou com um especial reunindo três pesos pesados da música brasileira.
As noites de Domingo costumam ser mornas nas TVs,onde o futebol impera.
Surpresa,parei para assistir.
Nelson Motta entrevistava Caetano e Roberto Carlos;eles falaram de música e saudade.
Caê contou um episódio da sua vida,quando esteve exilado com Gil ,em Londres,sem esperança de retorno;o gorilão lhe disse á porta do avião:
-Se voltar ao Brasil,dirija-se logo á PF,pois,do contrário ,nós lhe caçaremos até no inferno;ambos sabiam que os milicos eram bons nisto.
Melhor avisar aos mais jovens que PF não é prato feito,como hoje,mas ,sim,a temida Polícia Federal,dos milicos.Ou melhor,era um prato indigesto,sim,preparado para prender e assassinar brasileiros que pensavam diferente.
Os baianos tiveram sorte de não cair nas garras da Parasar,entidade militar maquiavélica,que punha os coitados “inimigos do regime” num avião e os soltava na Baía de Guanabara;sem pára-quedas!
Este braço podre envergonhará para sempre a Marinha de Tamandaré e João das Botas.
Mas,vamos falar do que interessa,ou seja,a visita que Roberto Carlos e  sua mulher,Nice, fizeram a Caetano,no exílio.
Roberto cantou uma canção “Força Estranha” e Caetano debulhou-se em lágrimas;o quase menino,que,estou segura,jamais detonaria uma bomba ou mataria alguém, um poeta,emocionou-se muito e empapou de lágrimas e suor os cachos encaracolados,símbolo de rebeldia,que se usava naquela época de chumbo,como um protesto silencioso.Ao chegar ao Brasil , Roberto Carlos escreveu esses outros belos versos para o amigo:
“Debaixo dos caracóis dos teus cabelos
Um soluço e a vontade, de ficar mais um instante”...
Mais tarde, para dar notícias do Brasil,Caetano escreveu para Roberto:
“Tudo em volta está deserto,tudo certo,
 
”Tudo certo como dois e dois são cinco...”
Era assim;naqueles tempos,os artistas falavam por metáforas...
Mas,o que isso tem a ver comigo?
Nada muito trágico,mas,parecido.
Nos anos 70 fui trabalhar, em Santa Catarina ,fugindo de um casamento desastroso e precisando sustentar a família,meus seis filhos,o menor com meses de nascido.
Nunca tinha me ausentado de casa e a dor e a solidão era grande.
Santa Catarina me recebeu bem,mas,friamente.Comecei em Joinville,passei por Blumenau,Brusque,Rio Grande,Itajaí,Criciúma e terminei em Floripa;trabalhei muito,comprei um carro,almoçava no Manolo’s e morava na Lagoa da Conceição;gerenciava uma empresa de vendas que ia bem,obrigado!
Mas,o jeito baiano de ser me fazia falta;o calor humano,a receptividade,a alegria.Some-se a isto uma jovem garota de uns trinta anos,que nunca se separou da família e-além de tudo!-deixando os filhos.A angústia me sufocava.
Neste dia, saindo do escritório na Baía,Rua Baía,acho,quis subir ao Morro da Cruz  e ,de lá,ver toda a cidade;como nunca me apeteceu dirigir,o motorista Mário,conduziu o carro.
Tudo conspirou:o lugar,a beleza da cidade com suas pontes,o crepúsculo,o silencio e,de repente,um rádio tocando Roberto Carlos:
“Eu voltei
Agora prá ficar;
Eu voltei aqui é o meu lugar...
Desabei num choro avassalador,soltei os cordões da saudade,mergulhei num mar de soluços.
Assustado,o motorista levou-me á uma clínica.
O sofrimento foi se diluindo,a serenidade voltou,mas,até hoje ,não consigo ouvir esta música sem chorar.
Ah,o nome da música é “O Portão”.
                            *
 
Um pássaro que tivesse cortadas suas asas e se visse obrigado a andar no chão para sempre, certamente seria um infeliz;é a saudade do azul o motivo do pessimismo e da tristeza dos pássaros e dos poetas,talvez porque eles embora vivam na fantasia se aproximam muito da cruel realidade.
O fato é que adorei Floripa;fiz grandes amigos lá.Era chamada a “baiana da Abril”e vivi um ano naquelas plagas.
Mas,naquele dia,mergulhei fundo do meu sofrimento e fui apresentada á saudade.
Eu te entendo,mano Caetano!
 
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 07/07/2009
Código do texto: T1686832
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