(Des)Construção
Todo artista que deixa de estar entre nós e que morre de maneira trágica ou repentina, merece nosso respeito como ser humano em primeiro lugar e de forma especial pela profissão que construiu ao longo da vida.
Ser artista em qualquer canto do mundo não é nada fácil e principalmente no Brasil, uma vez que nosso povo não tem memória e geralmente é muito mal informado. Não exatamente por sua culpa, mas pelo descaso de autoridades políticas que investem muito pouco ou que deixam de investir na educação da população, desde o início de sua vida.
Quero dizer que o artista é na verdade um grande herói, em primeiro lugar por ter a coragem de abdicar de outras profissões e seguir uma carreira tipicamente solitária e individual que por vezes, mesmo após anos e anos de muita luta e resignação, não dá em nada.
Ele passa por humilhações, por desconfiança de amigos e familiares, estuda e adquire uma habilidade que por vezes é rara, seja tocando com maestria um ou mais instrumentos musicais, ou mesmo decorando textos, dançando em palcos improvisados, ensaiando exaustivamente seus papéis com afinco e muita dedicação, unicamente para dar prosseguimento ao sonho do estrelato. Vale observar que o alto índice de competitividade é um fator que restringe e dificulta ainda mais a vida do artista.
Poderia ele seguir outra profissão? Lógico que sim, é a resposta correta. Mas se existe o médico, o engenheiro e o advogado, também existe o pedreiro, o vendedor e o sapateiro.
Se quisermos estabelecer comparações, veremos que a dificuldade encontrada pelo artista é bem maior do que o restante das profissões, pois o artista é único e a ele cabe apenas ser artista, ser diferente, viver ou pensar que vive em outra esfera, afinal, seu ego é muitas vezes a maneira com que desenvolve o talento que os outros não têm.
Vamos aos fatos: O engenheiro calcula, faz planilhas, o médico analisa, prescreve remédios e opera o paciente, o pedreiro levanta os tijolos e finaliza com a massa e o acabamento, o sapateiro ajusta os calçados, corta aqui e remenda ali. E o artista não poderia fazer o mesmo? Ora, sua profissão é encantar, fazer com que as pessoas sonhem acordadas, sua missão atua no coletivo da sociedade num único momento. Eis a diferença!
Poderia continuar e dizer muito mais sobre o tema, contudo, quero registrar o despreparo, a inveja e maledicência de alguns profissionais chamados de jornalistas, que após a morte do artista famoso, preferem bisbilhotar suas vidas íntimas e jogar por terra tudo o que foi conseguido com luta, suor e sangue por anos a fio.
É fácil encontrarmos nos jornais e na televisão comentários assim, “ fulano morreu, mas sua vida particular era um lixo, o coitado devia até o bar da esquina.”
Ou coisas do tipo, “o moribundo foi embora, mas não gostava de mulher” ou “ já foi tarde aquele vagabundo impotente que não cantava nada”.
Afinal, o que é mais importante, saber se o artista cantava ou atuava bem ou saber se ele devia milhões de dólares?
Talvez seja por isso que recentemente os juízes do supremo em decisão quase unânime, optaram pela não obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Afinal, se é para cursar a faculdade de comunicação e jornalismo e sair por aí dizendo asneiras, melhor não se formar, ou ser um simples cozinheiro, mas de mão cheia...