MEDALHA DE OURO PARA UM CHATO




Ele não participa mais dos campeonatos da turma. Seria covardia com os outros integrantes. Este ser é tão crítico e chato que inviabilizou a competição. Seria o mesmo que entrar com uma Kombi enferrujada enquanto ele voa em sua Ferrari.


Tudo estaria bem se (e um mísero "se" pode mudar toda a história) esta figura não tivesse algum recalque obsessivo! Em outras palavras, o cara cismou comigo!
 

E (pasme!) para a minha "alegria" colocou-se a minha inteira disposição para criticar todos os meus textos, muito antes de serem publicados. E com um detalhe. A insistência era tamanha que faria uma criança, em loja de brinquedos no Natal, parecer madura.

 
Então, diante deste quadro "animador" só me restava duas alternativas: ser deselegante ou deixá-lo supor o que bem entendesse. Afinal liberdade de expressão é para isso mesmo. Entretanto é uma via de mão dupla.


Enfim, depois dos primeiros choques, digo, críticas, entendi que, do seu ponto de vista, a lista telefônica é incrivelmente mais divertida e interessante do que qualquer coisa que possa ter escrito até hoje.

 
Então, pensei: é hora de presenteá-lo com a medalha de ouro na modalidade "chatos em curta, média e longa distância", e assim, louvar tamanha capacidade olímpica analítica. 


Junto ao prêmio máximo do louvor ao mérito, o medalhista campeão é consagrado pela nova alcunha: Doutor Bestowisky Chattox.


Por isso, meu caro (e destemido) leitor, não pense que isto é brincadeira. Este homem, invariavelmente, abomina o que escrevo. Se o levasse em total consideração para decidir as publicações, até hoje, seria inédita. Se bobear nem as gavetas teriam contato com o material produzido. 

 

Acho que ele teme uma possível depressão na carpintaria. Quem sabe, a madeira rangesse de dor ao acolher meus textos impressos?


Reconheço que passei a achar bizarro enviar as criações e receber uma lista de defeitos, problemas e teorias, para não dizer verdadeiras teses de pós-graduação. Para resumir: eu teria que ser outra escritora. 

 

Talvez seja até pior! Ele nem me considera escritora! Quanto mais ser outra!


Segundo o Doutor Bestowisky Chattox estou longe de chegar a isso.


O desencontro do sentido é tamanho que, um dia, tive a brilhante idéia de contratar um tradutor simultâneo. Durante sua leitura, uma legenda traduziria o que tentei dizer. 


Enfim, se fosse escritora masoquista de carreira, teria encontrado o crítico sádico perfeito!

 
Para situar o leitor nesta desventura literária, um dia, Doutor Bestowisky Chattox, diante da primeira crônica que escrevi, indaga:


- O que você quis dizer nesta história?


- Ora! O que escrevi.


- Elabore.


- Mas isso eu já fiz! Você acaba de ler!


- Quero ter certeza que entendi para criticar!


- Entendo, mas meu leitor não poderá suspender a leitura enquanto aguarda um e-mail com a legenda.


- Por acaso isso seria engraçado?


- Temo que seja apenas trágico!


- Você adora essas saídas fáceis! Olha isso!


Ele aponta para o texto. E eu espio. Lembro da passagem e minha gargalhada deve ter provocado uma taquicardia! O medalhista de ouro ficou pálido e tentei suavizar a situação insólita:


- Parece que você foi abatido pelo texto. Melhor encerrar por hoje.


- O que você quer dizer com isso?


- Nada! Posso mandar o próximo texto?


- Mas, e este aqui? Está um horror!

 
- Perdoe-me Doutor Bestowisky Chattox! Mais uma vez, não seguirei seu conselho. 
 

E aqui está! 

 

Publicado.











 (*) Foto: Google


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 07/07/2009
Reeditado em 07/07/2009
Código do texto: T1686399
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