O voraz leão urbano
Pasmem todos vocês! Foi criado no Brasil com todo o carinho e ensinamentos de requintes de crueldades, o leão mais feroz e voraz dos países ditos de terceiro mundo. Vocês devem estar pensando que ele vive nas selvas de enormes florestas e matas, não? Estão enganados! Vive aqui entre nós, nessa grande e tórrida selva de pedras. Orgulhosamente, ele é até mostrado nas televisões e mídias de todo o país. É o mimo do Brasil! Só que ele come muito, dorme muito, é barrigudo e não procria. Dia a dia, ano a ano, décadas a décadas, arranca-nos grandes nacos de nossas carnes já magras e minguadas. Os seus criadores e domadores exultam-se de alegrias e satisfações ao sentirem e presenciarem a sua voracidade. Há festas, comemorações, levantam-se brindes em homenagem a bela performance do leão. O seu insaciável apetite e ferocidade lhes dão o título de rei das selvas (digo "rei das arrecadações"), e a sua imagem forte e intimidativa serve perfeitamente ao fim a que se presta: "Pague-me o que você pode e o que não pode, senão vou devorá-lo...o...o...o!!!" Observei que o seu hábito e prazer predileto é saborear as presas pequenas e médias, pois das grandes ele mantém um certo temor e respeito, preferindo passar mais ao largo delas. Como já disse, foi criado aqui, na selva de pedras, desde muito pequenino e, hoje, transformou-se num baita leão, cheio de presas e dentes afiados. De uns tempos para cá, ele exigiu ser servido em pratos coloridos. As cores são, azul (modelo completo) e verde (modelo simplificado) e, haja comida p'ra esse bicho comer! Quando olho para nossas estradas de rodagem, escolas e centros de saúde, entristeço e fico a pensar: "será que esse danado desse leão não dá crias?" Além do mais, o felizardo nunca sofreu uma indigestão! Deve ter dentro do seu enorme estômago, um triturador de última geração. Seria melhor que os nutricionistas da economia brasileira o submetessem a uma rigorosa dieta, eliminando-lhe a banha excessiva e direcionando-a para o desenvolvimento do país. Os "políticos e as demais elites da esfera administrativa", andam necessitados dessa dieta, pois assentam-se atrás de suas escrivaninhas despreocupados das necessidades do povo, que caminha pelas ruas apressado e distante das alturas e vidros das janelas de seus escritórios, onde estão protegidos e engordando, como o leão. Estou pensando seriamente em mudar-me para uma selva de verdade, onde há florestas, rios e animais. Lá, os animais só se matam para alimentar e sobreviver, não por luxo, vaidades e corrupções. Lá, também ouvimos os cantos dos pássaros, vemos as cores das flores, plantas, borboletas, a beleza das cachoeiras e cascatas, ouvimos os ruídos dos rios e riachos, vivemos e sentimos o vigor da natureza. Não nego nem deprecio a evolução tecnológica, apenas desaprovo os meios e fins com que a empregam as classes dominantes para manterem-se no poder sem a consciência de suas funestas consequências. Agora, desculpem-me, a minha mochila está pronta, vou botar o pé na estrada, cansei! Até mais...
Autor: Jaime Rezende Mariquito