MARIDOS





Luísa era uma mulher tímida e avessa a reuniões com pessoas estranhas. Tentava evitá-las ao máximo, mas naquela noite, encontraria um grupo de intelectuais especializados em destilar cultura, como água no deserto para uma platéia desidratada.


O convite para o jantar foi um martírio. Seu marido insistiu por interesses profissionais. E o casamento deles estava tombado, literalmente, pelo patrimônio. Por isso não se separavam!


Tentou não pensar demais no desconforto ao sentar-se à mesa enquanto um renomado psicanalista se acomodava em frente à ela.


Luísa mergulhou em aflição. Por que não era um engenheiro? Logo um psicanalista! O que teria a falar com aquele homem? E se ele adivinhasse seu tédio conjugal? A mornidão de seus dias? Sem mencionar, as noites!


Quanto mais imaginava as possibilidades catastróficas de ter sua vida revelada em público, mais absurdos atormentavam sua mente.


O psicanalista tentou iniciar a conversa apontando para o esposo:


- Você é a irmã do Pedro, não é?


Luísa olhou para o marido como quem observa um parente distante. Ele sorria desenvolto ao lado de uma morena extrovertida. Teve inveja das mulheres enciumadas e das pessoas que simplesmente se divertiam ali, como se fosse muito importante ser o que eram.


Diante do estranho silêncio da mulher, o psicanalista retomou a pergunta:


- Vocês são irmãos?


Invadida pela mais desastrada timidez, Luísa, que até aquele momento não era capaz de verbalizar o vazio ao lado de Pedro, foi surpreendida por seu ato falho.


E perplexa ouviu-se responder:


- Somos maridos.




(*) Imagem: Google


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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 06/07/2009
Reeditado em 06/07/2009
Código do texto: T1685696
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