Festa junina

As crianças acompanhavam os pais e se divertiam. Meninas com vestidos de babados, faces coradas e lábios pintados e os meninos com calças remendadas, camisas quadriculadas e bigode preto. Todos com chapéu de palha.

A animação era grande. Músicos tocavam acordeon e todos cantavam.

Rapazes e moças também se vestiam de caipira. Eu via sempre um deles levantar o chapéu e, num cumprimento diferente, dizer: boa-noite, sinhá! Ela, sorrindo, com as mãos na ponta da saia e um pé para trás,respondia: boa-noite, nhô-nhô! Pequena ainda, não entendia muito bem a encenação.

Melhor pra mim era olhar as barraquinhas de bambu. Em algumas havia doce de batata, de abóbora e amendoim. Em outras, pipoca, quentão e milho assado de montão. Mas a preferida era aquela da pescaria. Sem contar a dos coelhinhos, que corriam e se escondiam em casinhas numeradas.

Eu via mocinhas cochichando em rodinhas. Falavam das simpatias pra arranjar namorado. Em noite de Santo Antonio, acender vela pra ele era bom. Escrever o nome de três rapazes, em papeizinhos separados, pôr na bacia e deixar fora de casa, também. No dia seguinte, o pretendente estava indicado. Dava certo, algumas asseguravam. E todas ficavam assanhadas.

De repente, um zum-zum: vinham os noivos. Aparecia um padre e fazia o casamento. Todo mundo ria. Acabada a cerimônia, os pares, de braços dados, formavam fila. Hora da quadrilha. Falando caipira, uma voz comandava. Caminho da roça! Todos seguiam. A ponte caiu! Todos paravam. Avancê! Eles continuavam. Troca de par! Eles trocavam. Tá chovendo! Todos se encolhiam...

Eu me divertia. Só não gostava da perseguição dos moleques que soltavam traques, bombinhas e busca-pés. E os rojões me faziam estremecer! Gostava das estrelinhas que brilhavam e estalavam na escuridão.

Era capaz de ficar horas com os olhos grudados nas chamas da fogueira, com um saquinho de pipocas na mão.

Nessas alturas, já morrendo de sono...