Prisma
Águida Hettwer
O amor debocha com a vergonha, faz passeata, pinta a cara, exige direitos autorais nos livros da consciência. O papel pensa em voz alta, solta os fantasmas que estavam presos. É a isca e o anzol da relação. Não se faz de rogado, permite-se a ultrapassar as barreiras.
Uma vida a dois, são duas vidas unidas em laços, mas nem por isso perdemos os gostos e os paladares. Cada um possui a sua identidade e digital, no código de barras da existência. Apreciamos cores de diferentes matizes, torcemos por times opostos, um gosta de doces, o outro tem apreço pelo salgado. Uns acreditam que a vida começa aos quarenta anos, outros morrem no casamento.
Fazem de escudo os próprios filhos, deixam de concretizar sonhos, por eles e por causa própria deles. Assinam o testamente antes da hora, e doa-se a usufruto. Reprimem-se, ao serem elogiados, as vogais e consoantes lhes são estranhas, pois são acostumados ao descaso. Em prol da felicidade alheia, esquecem da sua.
A vida passa lenta e em fila indiana, mas quando se percebeu os passos não tem o mesmo vigor de outrora, no entanto a caminhada continua. No lar, muitas vezes os herdeiros já se foram, cada um cuidar dos seus afazeres. Restaram apenas às confissões das paredes, o canto da mesa riscado, o abajur quebrado. E a solidão interior permanece mesmo nos almoços de domingos.
Despedimo-nos da vida, ao deixar que os desejos reprimem-se nas gavetas, confinados ao medo. Quando se gosta de alguém, em prismas paralelos, o incentivo vem antes da aprovação, há zelo na ponta dos dedos, doçura na saliva, mansidão no palavrear. Quando se ama, espelha-se um no outro, sem alterar a legenda que cada um carrega no olhar.
04.07.2009
Águida Hettwer
O amor debocha com a vergonha, faz passeata, pinta a cara, exige direitos autorais nos livros da consciência. O papel pensa em voz alta, solta os fantasmas que estavam presos. É a isca e o anzol da relação. Não se faz de rogado, permite-se a ultrapassar as barreiras.
Uma vida a dois, são duas vidas unidas em laços, mas nem por isso perdemos os gostos e os paladares. Cada um possui a sua identidade e digital, no código de barras da existência. Apreciamos cores de diferentes matizes, torcemos por times opostos, um gosta de doces, o outro tem apreço pelo salgado. Uns acreditam que a vida começa aos quarenta anos, outros morrem no casamento.
Fazem de escudo os próprios filhos, deixam de concretizar sonhos, por eles e por causa própria deles. Assinam o testamente antes da hora, e doa-se a usufruto. Reprimem-se, ao serem elogiados, as vogais e consoantes lhes são estranhas, pois são acostumados ao descaso. Em prol da felicidade alheia, esquecem da sua.
A vida passa lenta e em fila indiana, mas quando se percebeu os passos não tem o mesmo vigor de outrora, no entanto a caminhada continua. No lar, muitas vezes os herdeiros já se foram, cada um cuidar dos seus afazeres. Restaram apenas às confissões das paredes, o canto da mesa riscado, o abajur quebrado. E a solidão interior permanece mesmo nos almoços de domingos.
Despedimo-nos da vida, ao deixar que os desejos reprimem-se nas gavetas, confinados ao medo. Quando se gosta de alguém, em prismas paralelos, o incentivo vem antes da aprovação, há zelo na ponta dos dedos, doçura na saliva, mansidão no palavrear. Quando se ama, espelha-se um no outro, sem alterar a legenda que cada um carrega no olhar.
04.07.2009