O mosquito da dengue está por aí

NOTA: Esta crônica foi publicada no Opinião Jornal, diário da cidade de Araras-SP, em 07 de maio de 2008.

Acredito que muitas pessoas viram as imagens grotescas que foram mostradas pela TV, com pessoas amontoadas pelos cantos dos hospitais, até nas ruas, dando demonstração explícita da impotência governamental perante o problema de uma epidemia, causada por um simples mosquito, mas que já causou a morte de muita gente, principalmente de crianças. Isso é muito triste, porque a arrecadação tributária brasileira tem batido recordes, mesmo com a queda da indecente CPMF, dando mostras de que a “montanha” de dinheiro que está sendo amealhada não tem sido empregada condignamente, como resultado do retorno do sacrifício dos contribuintes, mas sim, sendo desvirtuada para outros caminhos estranhos, ou então sendo desperdiçada de forma irresponsável.

Por outro lado, vamos encontrar outros fatores preponderantes para se permitir que a proliferação dessa peste seja de tal monta – o principal problema está nas mãos da própria população que, por falta de compreensão do que seja cidadania, teima em manter criadouros dos mosquitos em seus próprios quintais. Vejam que os maiores focos estão em terrenos ou casas abandonadas, onde o poder público não tem acesso, logo estamos por aqui diante do descaso do “povão”, não sabemos se por ignorância pura, por preguiça ou por burrice. Ora, assim fica difícil – por um lado a alienação do povo e, por outro, a incompetência do poder constituído – dessa forma, como enfrentar as dificuldades com êxito?

Um ponto de extrema preocupação que podemos observar é o problema da própria epidemia em si, em pleno século XXI, onde a ciência médica se arroga de estar em estado tecnológico tão avançado, que chegou ao ponto de efetuar cirurgias de transplantes de órgãos, de entrar em estudos sobre embriões humanos, de fazer experiências com células-tronco, de criar vacinas que poderiam erradicar de vez muitas doenças, de aplicar tratamentos quimioterápicos e radioterápicos, e mais outras tantas “maravilhas”, como a descoberta e o uso de antibióticos, que está deixando os infectologistas de todo o mundo completamente desarvorados, por estarem perdendo a guerra contra as bactérias, cada vez mais resistentes a novos tratamentos, delineando assim um futuro muitíssimo desastroso para a humanidade. _Então, o que fazer? Vejam que a epidemia da dengue apareceu imediatamente depois do surto de febre amarela, que foi combatido com uma grande vacinação em massa, com isso mostrando a inoperância total de toda a parafernália científica dos tempos modernos, pois essa doença se mostra ainda mais mortífera, além de já haver quatro espécies diferentes de manifestações. Ainda mais, temos que ficar espertos com relação à ameaça silenciosa da “gripe aviária”, que, com toda a certeza, poderá, comparativamente, transformar o perigo da dengue como sendo apenas um “resfriadozinho”.

No meio dessas conjeturas, algo que está me causando espécie é o silêncio a respeito do surto no Rio de Janeiro, que já havia contabilizado a morte de mais de 100 pessoas, e que ficou para um segundo plano, desde que só se fala a respeito da morte da menina Isabella, deixando assim bem claras as intenções “misteriosas” de se desviar a atenção do público, que se deixa levar com muita facilidade pelo sensacionalismo e pela exploração dos sentimentos de justiça (vingança?) e de punição. A mídia, neste caso, está sendo orquestrada para chamar a atenção da opinião pública em torno de um assunto que cabe somente ao trabalho de investigação policial, assim como tantos outros por aí. A epidemia da dengue está dizimando pessoas, está deixando à mostra a inoperância dos governos, da ciência médica e do próprio povo, portanto, ao desviarmos o foco da nossa visão para um simples caso de polícia, de forma tão insistente, e já se tornando repetitivo e maçante ao extremo, estaremos colaborando com a desinformação e o acobertamento de problemas muito sérios, que precisam da nossa plena atenção e da nossa ação efetiva. Quero lembrar mais uma vez – deixemos de agir como os avestruzes, que se julgam salvos de perigos, bastando enfiarem a cabeça em um buraco, somente por não enxergarem o que está acontecendo em seu derredor.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 04/07/2009
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