A menina Isabella

NOTA: Esta crônica foi publicada no Opinião Jornal, diário da cidade de Araras - SP, em 30 de março de 2008.

_Meu Deus! _O que estará acontecendo com o Mundo? _Por que será que, depois de toda a estripulia que está esculhambando com a vida do Planeta, o homem ainda acha um jeito de sacramentar sua psicopatia e idiossincrasia, caminhando na contramão da via de acesso à salvação? _Qual poderá ser o ponto focal que motiva esse tipo de desvio de conduta humana? Afinal de contas, encontramo-nos em plena rota de extinção, com todas as evidências de que o limite da possibilidade na reversão do processo autodestrutivo está em seu limiar, ou seja, estamos mesmo é dispostos a implodir tudo, literalmente. _Por que isso está acontecendo? Vejam que saiu uma notícia estarrecedora, divulgada na Internet, mostrando a decisão do governo italiano em voltar a incentivar o uso do carvão, como processo produtivo de energia elétrica, ou seja, aumentando assim a emissão de poluentes na atmosfera, de forma brutal. O pior é que também a Alemanha está se encaminhando para o mesmo destino, tudo por causa dos altos preços internacionais do petróleo. A essas atitudes tresloucadas damos o nome de assassinato em massa, a partir do suicídio coletivo ítalo-germânico!

Em meio a essas provas de total falta de lucidez de grande parte dos governantes pelo mundo, também podemos encontrar espaço para ficarmos estarrecidos com os próprios cidadãos que compõem as coletividades nacionais, que estão por aí cometendo desatinos mil, ainda julgando-se pertencerem a uma casta de indivíduos civilizados. O acontecimento havido com a menina Isabella chocou a todos que tenham sentimentos de humanidade, o que não poderia ser diferente, pois a aceitação de um acontecimento de tal monta, como sendo “corriqueiro”, demonstraria um ser humano alienado.

Muito bem, compartilho em gênero, número e grau esses sentimentos com meus irmãos terráqueos, mas quero esclarecer melhor o porquê do meu desencanto em relação ao povo do Planeta Terra, mais especialmente com meus conterrâneos brasileiros, justamente por causa desse acontecimento inaceitável por qualquer cidadão comum. Se eu não estiver cometendo um erro de conceito, acredito que muitos estão julgando que minha indignação se refere à pessoa (ou pessoas) que cometeu tal estupidez, portanto como sendo uma forma de compartilhamento dos sentimentos coletivos de justiça, de castigo ou de punição exemplar, que afloram pelos quatro cantos do país. Não, definitivamente não, por mais que isso possa parecer inusitado – eu sou figadalmente contra as manifestações incoerentes de pedidos de justiça (vingança?), de atitudes cheias de hostilidades explícitas como as de xingamentos, ou pior ainda, de linchamentos e de “gritos de ordem”, seguidos de baderna.

Essas atitudes alimentam a desordem, dão campo para a exploração da mídia pela atenção dos expectadores para o ganho de “pontos” no IBOPE, gastando-se muito tempo com detalhes de um assunto não tão extraordinário, considerando-se o grau de podridão e de periculosidade dos atos que estão sendo mostrados, a todo instante, bem perto de nós, como por exemplo: pais que exploram sexualmente filhas crianças ou adolescentes; mães que jogam recém-nascidos para morrerem em matagal ou em lagos; atos de pedofilia, praticados até por eclesiásticos; exploração de adolescentes e até de crianças na prática do lenocínio; escravidão infantil em trabalhos insalubres etc.

Algo está cheirando mal por detrás de toda essa polarização pública, de forma tão extremada, no caso da garota Isabella, portanto a mídia está prestando um desserviço jornalístico, em detrimento de um melhor acompanhamento pelo espectador a respeito de assuntos que estão sendo colocados em esquecimento, por interesses outros. Não podemos nos esquecer de que há um julgamento maior, que prescinde de nossos esforços em “fazer justiça”, ao qual não existe escapatória e, ainda mais, nenhum ser humano tem o direito de “atirar a primeira pedra”, porque o Criador não concedeu procuração a quem quer que seja para julgar, condenar e castigar o semelhante, em Seu nome.

Araras (SP) 30/03/2008

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 04/07/2009
Reeditado em 23/03/2010
Código do texto: T1681417