Tatuagem Coberta

Eu quase que não sei de minha capacidade dispersiva a não ser quando algo me toma em interesse. Eu que sou de me admirar frequentemente frente ao mais simples, ao que de tão pequeno usualmente é esquecido, ou ao que é tão vasto e imenso que nunca é tocado.

Eu me lembro do casual.

Eu toco o intangínvel.

Eu troco em míudos as sensações, porque se assim não for não poderei falar delas sendo eu tão pequena.

Eu alargo os meus olhos para poder avistar os teus, e é preciso mesmo alargá-los porque eles quase se fecham ao sorrir à tua imagem.

E alargando assim as velas do meu olhar fui impelida pelo mar e me arrebentei em ti.

Naquele instante agradeci que da minha dispersão me despertastes a tua presença para o encantamento que agora descrevo.

De teus lábios a voz aveludada à mim dirigida, eu que sequer sei teu nome me senti como quem acorda dum sonho e pouco entende da realidade perturbadora, mas era aquela a primeira vez que a realidade era mais bela que o sonho, então eu não ousaria questionar... fingia naturalidade, mas creia-me era devaneio.

Eu tive de segurar o ombro amigo que ao meu lado se estirava pra não ceder e demostrar a fragilidade fisica que me faria vacilante diante de ti. Me mantinha posta sobre o amigo e focada em ti.

E enquanto passeava pelo estado de hipnose, impressionei-me com a tua mão lânguida e tão delicada. Sem tua permissão ousei apanhá-la (destemida e diretivamente o fiz, é que se reagisses mal ou quer como fosse não doíria, nunca me machuquei em sonho, embora fosse tudo real) e era tão macia aquela textura que não encontro palavra para descrever, e agi impetuosamente o que não é um caracter que compõe o que sou; procurei forma na pequena tatuagem, confesso aqui que procurei sem querer encontrar, ao que sorri grata...

- Havia um nome horroroso aí embaixo, mas eu o cobri. E riu, talvez um pouco rubra.

E eu não tive curiosidade em saber que história se escondera por trás daquela tatuagem coberta, apenas sorria por que estava coberta e me parecia aquilo tão lindo... Ainda detinha a tua mão na minha e à medida em que nos despedíamos ia sem nenhuma motivação, é verdade, deixando escorrer tua mão da minha. Tua mão volvia ao seu lugar e eu me sentia como quem toca a pétala de uma flor e na despedida sente tristeza de não poder levá-la consigo, mas eu de alguma forma trouxe teu perfume comigo.

E saí deixando ali, ainda assentada a flor em seu canteiro a colorir a noite e o existir de alguns, senão de muitos...

Foi um encanto te conhecer.

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 03/07/2009
Código do texto: T1680536
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