Férias "planejadas"

Num mundo maluco como o que vivemos hoje, até para usufruir de suas férias deve ser programar com um bom tempo de antecedência, se possível um ano, e mesmo assim pode ser que na hora H, algo possa acontecer e acabar com o seu merecido descanso, provocando muita dor de cabeça, frustração, desentendimentos, inícios de parada cardíaca e muitas coisas mais.

Depois de três anos consecutivos de trabalho, teria as suas primeiras férias em casa, o que ele fez planejar seis meses antes, assim que recebeu a notícia de seu chefe, seu destino as praias de Iracema, Fortaleza – CE aproveitaria a beleza do litoral nordestino para descansar com sua mulher e apreciar a beleza daquele estado, famoso por suas praias e dunas de areias brancas.

Foi o semestre mais longo de sua vida, trabalhava ansioso, incomodado, aguardava o momento contando os minutos, seus colegas riam de sua consumição e o seu encarregado questionava a sua falta de atenção, o que poderia provocar acidente dentro da empresa e como conseqüência problemas com a justiça do trabalho.

Comprou as passagens dois meses antes, apenas de ida, e pediu a sua mulher que as guardassem com carinho, houve uma pequena discussão devido a não ter comprado os da volta também, ele alegou que nessa época era tranquilo para viajar e não encontraria dificuldades para comprá-los lá. “Não esquenta a cabeça”, disse sorrindo a sua amada.

Suas expectativas acabavam, os tão esperados trinta dias de gozo chegavam , despediu-se de seus companheiros de trabalho e rumou rapidamente para sua casa, não queria perder o voo programado para as três da manhã, no caminho pegou um trânsito filho da p..., os carros não fluíam, olhava para o seu relógio a cada minuto, ligava para a sua casa e ninguém atendia (sua mulher procurava desesperadamente as passagens), tentou ouvir músicas para relaxar, mas não adiantava.

Sentiu umas contrações estranhas e logo entendeu que se tratava de uma bela dor de barriga, o seu intestino lhe pregava uma peça não muito agradável, não tinha comido nada diferente naquele dia, não que lembrasse apertado entrou em sua moradia sem dizer nada, queria apenas um banheiro o mais rápido possível, ficou por mais de quinze minutos, onde pôde aliviar toda a sua “tensão”.

Atrasados para pegar o voo, discutiram no meio do caminho para saber de quem era a culpa, ele dizia que era a sua incompetência para guardar uma simples passagem e ela simplesmente falava alto e em bom tom que a culpa era de sua caganeira, no aeroporto descobriram que seja lá o que tinha provocado o atraso, não adiantava mais brigarem, por causa de “quinze minutos” perderam o avião, por sorte sairia outro as quatro.

Ficaram uma hora sem se falarem, na verdade quarenta minutos, os outros vinte ele estava “ocupado” procurando um banheiro para aliviar, e novamente perderam o voo, foram ao balcão mais próximo pedir informações e ao saberem que outro para o seu destino só na próxima semana, quase saíram no tapa ali mesmo, de volta para casa, no caminho ela repetia toda hora:

- “Por que não esperou para cagar no avião? Por que não esperou para cagar no avião?

Quieto ouvia sem dar um pio, no fundo sabia que estava errado, mas ou despejava àquela hora ou fazia nas calças, e durante a semana dormiu no sofá como castigo e também para chegar mais rápido ao banheiro, uma forte diarréia os fez desistirem da viagem, não havia possibilidades de se deslocar para outra região nessa situação, tentou remédios caseiros (aqueles ensinados por vó e passados de geração para geração), nada resolvia.

No hospital recebeu a notícia do médico, após alguns exames, que se tratava de uma infecção intestinal, seria necessária uma lavagem para melhorar o problema, suas férias iam por água abaixo (literalmente), em casa comunicou o resultado a sua mulher, que pediu desculpas pelos seus atos sem controle, e prometeu que o cuidaria com todo carinho.

Com a lavagem feita, se recuperou gradativamente, não só os remédios, mas os cuidados dela ajudaram em sua reabilitação, tiraram os atrasos (transar com caganeira, não dá) e remarcaram a viagem, contudo para outro lugar, Chapada Diamantina, precisamente para Lençóis, centro do estado da Bahia, curtiram os poucos dias restantes de suas férias, passearam pelas belas paisagens, tiraram fotos, apreciaram a culinária local (com moderação) e conheceram a cultura do local, tentaram aproveitar ao máximo.

Na volta ao trabalho, relaxado e com as energias renovadas, mostrou as fotos dos lugares visitados a seus colegas, que não entenderam a mudança de destino na última hora, ele com uma pitada de humor, disse que tirou as primeiras semanas para descansar devido a circunstâncias que não era muito bom nem de lembrar, teve uma vida de “Rei” (do trono para cama e vice-versa), e até aconselhou que suas férias fossem planejadas com no mínimo um ano de antecedência, depois pensou bem..., mais um pouco, e soltou:

- “Vocês querem saber? Falar a verdade é melhor não planejar porra nenhuma, deixe para decidir na hora, só recomendo uma coisa, não comam nada diferente ou com alguma procedência não confiável nos dias que antecederem a viajem.

Experiente sabia muito bem do que estava falando.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 03/07/2009
Código do texto: T1679652
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