O HOMEM SENSÍVEL
O homem quando escrevia sobre o deserto sentia sede. Tinha vertigens, a pele bronzeava e os lábios secavam. Quando escrevia sobre a Antártida sentia o rigor do frio, dores nas juntas, o nariz ficava frio e imóvel. Quando escrevia sobre o terror, era espancado, torturado, ia para o pau de arara, feridas apareciam nas pernas e nos braços. Quando escrevia sobre o amor, palavras brotavam de seus poros, seu rosto era só sorriso, mas a produção de palavras poderia asfixiá-lo.
Quando escrevia sobre a água, ficava molhado, chovia em sua cabeça, seu quarto alagava e ele não sabia nadar.
Todavia esse homem cansou de sofrer. Vou curar essa minha sensibilidade. Assim não vivo! Vou trabalhar meu cérebro e mudar minha vida.
Quando foi escrever sobre o deserto viu logo um oásis lindo, plantas exuberantes, água jorrando... Sua pele ficou úmida e sua boca encheu de água, vendo tanta beleza. Quando escrevia sobre a Antártida, viu um rico navio e nele percorreu todo aquele território gelado, no quentinho de seu quarto, bem agasalhado e feliz.
Ao escrever sobre o terror, violência, olhava para um retrato da Madre Tereza de Calcutá; e lembrava-se dela, curando os pobres e infelizes e sentia uma grande paz no seu coração.
Quando ia escrever sobre o amor, procurava a sala de sua casa onde havia uma lareira e lá ficava olhando o fogo que começava leve e depois ia crescendo, aquecendo toda a sala.
Quando estava no ponto, subia para seu quarto onde sua mulher já o esperava cheia de amor. Depois voltava e escrevia lindos poemas que brotavam quentes de seu coração.
Finalmente, ao escrever sobre a água que era seu maior problema, encontrou a solução. Entrou para aulas de natação, virou exímio nadador, ganhou até um troféu de 1º lugar numa competição. Venceu totalmente seu medo. Escrevia até sobre enchentes e tornados.
E aquele homem tão sensível, resolveu todos seus problemas, trabalhando sua cabeça. Como uma fada, transformava o que era difícil num mundo encantado.