Pina Bausch
Quarta-feira, 8 de Julho de 2009
PINA BAUSCH
As manchetes de quarta feira, 1° de Julho, 2009, do Estadão e da Folha trouxeram a notícia da morte de Pina Bausch. Ao ler os jornais me perguntei:
“Como nunca eu ouvi falar dela?”, triste pelo que vivi como dupla perda: perder Pina Bausch, artista contemporânea tão especial, e principalmente, não ter noticiado sua existência enquanto viveu, até anteontem, no dia 30 de junho. No lugar de cair em depressão por minha alienação, vou tentar contar para vocês minha leitura dos jornais.
Pina Bausch 68 anos, coreógrafa e bailarina era alemã e vivia na cidade de Wuppertal, próxima de Düsseldorf. Ali dirigia sua companhia de dança, “Tranztheater Wuppertal”, (a tradução e dança teatro) fundada no início dos anos 70. Partiu de uma formação no balé clássico, e revolucionou, como coreógrafa, a dança do século XX.
"Não me interesso em como as pessoas se movem, mas o que as movem”. (Ilustrada, Folha de São Paulo, quarta feira, 1° de Julho). Uma de suas frases sempre repetida por ela mesma.
Dizia que seu método não é simples, que fazia perguntas aos seus bailarinos e muitas dessas perguntas ficavam sem respostas. No entanto, sua preocupação estava em saber o que sua companhia estava pensando, em cada momento. As perguntas antecediam cada espetáculo, e nunca um deles seria como o outro. A cada apresentação o grupo se reunia com Pina, discutindo e modificando alguma coisa. As opiniões diferentes, para ela, faziam com que o processo de criação se enriquecesse, como um quebra-cabeças que jamais se aprontaria.
Para ela era fundamental compreender o que as pessoas “estão sentindo”, e como entendem e sentem os próprios corpos. Para ela o Brasil ( e a Bahia em especial) causava fortes impressões, a mistura de culturas e etnias. “As pessoas se tocam, dançam juntas, o clima reduz o receio da proximidade. Nos países frios, ficamos” fechados em casa, o que dificulta a movimentação”. (Caderno 2, quarta feira, 1° de julho de 2009).
No começo de sua carreira não foi compreendida pela maioria, apenas por uma minoria. Muitos bailarinos a recusaram, e muitas vezes as casas de espetáculo ficaram vazias. Pina não desistiu.
Houve uma reviravolta a partir dos anos 90, quando todo bailarino sonhava trabalhar com ela, e as salas ficavam lotadas, os ingressos vendidos com meses de antecedência.
Estou aqui me perguntando, o que em Pina Bausch e sua morte, tanto me mobilizou? Em comum com Pina tenho ser mulher, ter 68 anos e outras preocupações. Por exemplo:
Como artista e terapeuta me preocupa os sentimentos das pessoas. Descubro desde há muito tempo, e a cada dia que sentimentos, percepções, sensações são vividos no corpo. Essa descoberta que, com esforço, qualquer um de nós pode alcançar, transforma o corpo em um instrumento delicado e sensível, cheio de referências para nós, que o habitamos. Nosso corpo, nele e com ele dançamos. Um contato maior com o próprio corpo é um contato maior consigo mesmo. Para mim o sentimento de tristeza é fundamental, e sem tristeza não há vida. Assim como a agressividade e a raiva são fundamentais. Os sentimentos proibidos precisam ser bem vindos, o que importa, é como usá-los. E só os usamos bem quando os incluímos e ao nos conhecermos. Também aprecio e respeito a boa e construtiva irreverência.
Pina Bausch foi irreverente, ousou desmantelar o balé clássico, para criar uma linguagem onde o corpo é vivo, e não técnico. Em sua arte ela se preocupou com a situação da mulher, e para ela a dor não era proibida, ela a incluía em seus espetáculos. Nos últimos tempos havia uma diferença substancial entre uma fase intensa e deprimente, dos anos 70 e 80, para uma fase mais recente, vista como “superficial e alegre”. A isto Bausch respondia diretamente:
“A questão é do que precisamos hoje. Estamos num momento terrível tenebroso, sério e assustador. Então, procuro dar um pouco de balanço, compensação para tudo isso”. (Caderno 2) Penso que ela está absolutamente correta: vivendo nossas tristezas, podemos viver nossas alegrias, e precisamos muito delas. (Coloco “ela está”, nas linhas acima, porque alguém que viveu como Pina viveu, construindo a obra que nos legou, permanecerá viva, para além da morte).
Por ser humana, no entanto, sou paradoxal. A morte real de Pina Bausch trouxe para mim a dor de perder uma pessoa com a qual me recém descobri cheia de admiração, calor, amor e afinidades.
Convido-os a entrar nos sites da Folha e do Estadão, e ler as reportagens do dia 1° de Julho.
Gostaria muito que pudéssemos dialogar acerca do acontecimento Pina Bausch, e também que me ajudassem a conhecê-la melhor.
Postado por Eliane Accioly às 17:01 0 comentários