O CARRO CARBONIZADO

Eu estava no ponto de ônibus.

Eram cinco horas da manhã de sábado.

Eu ia para o trabalho.

Havia mais três pessoas no ponto, junto comigo: uma senhora com uma menininha magra, de uns dez anos de idade, com blusa e touca de Chapeuzinho Vermelho, e um rapaz com fone nos ouvidos, provavelmente ouvindo músicas no celular.

Amanhecia.

Caía a garoa costumeira de São Paulo.

O semáforo próximo ao ponto de ônibus fechou.

Mas o vectra preto que vinha em alta velocidade não parou.

Passou direto.

E teve que se desviar da Ranger que surgiu na avenida, seguindo seu caminho.

Subiu na calçada adiante e bateu no poste de concreto.

O barulho foi ensurdecedor, semelhante ao da explosão de uma bomba.

Ficamos paralisados pelo susto.

Quando reagimos, segundos depois, e corremos ao local do acidente, o carro ardia em meio às chamas.

Vimos o homem lá dentro, em desespero, mas não pudemos fazer absolutamente nada.

Logo chegaram a Polícia e os Bombeiros, com as luzes e sirenes ligadas.

O corpo do homem foi retirado e levado para o IML.

Tudo foi limpo.

Tudo voltou ao normal, horas depois.

Só eu que não.

Dentro do ônibus, rumo ao trabalho, eu olhava sem ver, através da janela.

Em minha mente, teimosa e quente, a imagem do carro carbonizado...