Tombos

Tombos, quantos já levei! Felizmente não desses que a vida nos dá. Talvez porque pra viver eu preste mais atenção. Mas pra andar... Acontece que meus pés insistem em pisar quase sempre no lugar errado. Se tiver um buraquinho na calçada, é ali mesmo que um deles vai parar.

Muitas vezes, do nada, eu torço o pé. Ao levantar da cama, do sofá, sei lá. Antes eu caía, agora até consigo controlar aquele desequilíbrio do corpo que vai pra frente, para o lado, desgovernado. Se estiver com coisas na mão, vai tudo pro chão. Mas tem horas que não dá pra fazer nada, principalmente se for uma escorregada.

Já cheguei à sala, onde os filhos chamavam, deslizando pelo assoalho, deitada. Ainda tive que ouvir: por que se jogou no chão? E muita gargalhada.

Outro dia, fazendo caminhada, quis ultrapassar umas pessoas e ao descer da calçada, vapt-vupt, não sei o que aconteceu. Fui parar no meio do asfalto. Sorte que não passou nenhum carro. Esfolei pernas, cotovelo, braços. Tive que ir embora cheia de dores e de cara suja, que escureceu.

Já tropecei no guarda-chuva fechado que levava na mão. E caí, nem preciso dizer. Em meio à multidão. Nessas horas todo mundo ri, não sei porquê...rs.Também tive a honra, é verdade, de rolar escada abaixo e até me lembrei daquele filho do Oswald de Andrade, embora fosse mais apropriado pensar no Lero.

Uma vez, entrei numa livraria logo de manhã. No que pus os pés no piso de granito, que brilhava, senti uma leveza esquisita, como se fosse voar. Até parecia um sonho. Abri os braços. Dei umas patinadas e em vez de levitar como Ícaro, caí de bruços, estatelada. Doeu. Logo correu gente pra me ajudar. E o pior de tudo, tinha as roupas molhadas. O brilho, tão bonito naquele chão, era da pedra ao ser lavada...