Caranga

Que me desculpem os donos de carros velhos, mas se for para ter um, prefiro andar a pé. Apelidos não faltam para esses poluidores de ar e visual, poisé, caranga, pau-véio, dor de cabeça, possante, joça, lata-velha, sempre a venda, bebo não négo, e muitos outros que não consigo me lembrar no momento, porém ao contrário do que nós imaginamos, ou eu imagino, muitos sonham ter o seu carrinho, mesmo caindo aos pedaços.

Carro velho é tão ruim, que você compra por dois mil (sem garantia), gasta três e vende por um e meio, para não perder o que gastou, que matemática maluca, não dá para acreditar que isso acontece constantemente, fico p... da vida com isso, só porque é pobre não há necessidade de ser burro, o infeliz gasta mais com a porcaria do carro que com a própria família, para mim é caso de polícia, hahahaha.

Não vou negar que as minhas mãos já coçaram para comprar um, imaginem Fusca 73, azul, ou o que sobrou da tinta, pneus meia vida e sem step, motor recondicionado, carroceria enferrujada (risco iminente de tétano) e assoalho com furos, a minha sorte foi que o dono não quis financiar em três vezes, agradeço a ele todos os dias, é não é um amigão?

Comecei a pegar raiva desses “lixomóveis”, quando viajando para trabalhar nas feiras, na volta a Perua do meu tio quase capotou em uma descida por falta de freio, juro que o famoso p... que pariu ficou com a marca da minha mão de tanta força que fiz para segurar, de moreno, fiquei branco, sem fala (gaguejei por dois dias) e acho que comecei a ficar careca depois desse fato.

E quantas vezes andando pela rua fui chamado para empurrar esses carros que enguiçaram em plena via e ajudaram a congestionar um pouco mais o trânsito, e o pior, além de estar ajudando, sou xingado por outros motoristas como se a culpa fosse minha, não tem cabimento, e para piorar a minha revolta, é quando sou achocalhado por outros motoristas de carros piores do que aquele que estou auxiliando a retirar do meio da rua.

Isso não é nada, uma vez andando dentro de um, recém comprado por um colega, que me pediu para acompanhá-lo, o câmbio soltou em sua mão, quase pulei com o carro em movimento, pelo menos esse tinha freio e conseguiu parar. Não sei se foi o desgaste da ferrugem ou uma solda mal feita de outra eventual quebra, com certeza só ajudou a aumentar a queda do cabelo, e a testar o meu pobre coração, dessa vez não perdi a fala, faltou quase.

Hoje não entro mais em carro com mais de vinte anos de uso, a não ser que esteja com a manutenção em dia, muito bem conservado ou tenha passado recentemente pelo programa do Huck, chega de sustos, pretendo manter o resto do cabelo, continuar moreno, falando e o coração batendo por um pouco mais de tempo.

Calma aí... Vocês não vão acreditar, acabou de passar um Chevette 79, verde, soltando um pouco de fumaça, parece estar em bom estado, está voltando, parou na porta de casa, não é possível o cara (meu colega) não tem vergonha, já desfez da sua Brasília, putz está me chamando, bom pessoal vou ficando por aqui, ele está pedindo para dar uma volta com ele pelo bairro, se tudo der certo logo estarei escrevendo por aqui novamente.

FUI!!!!!!!!!

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 02/07/2009
Reeditado em 09/07/2009
Código do texto: T1677881
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