A PERUA E A PINIQUEIRA
- Chega baranga!
- Fala perua!
- Creusa, marca logo meu esteticista as dez, manicure ao meio dia, reserva uma mesa no Le Fresquê as treze para o almoço, analista as dezesseis e as dezenove uma mesa no La brocoió para o jantar. E por fim, massagista as vinte e uma. Depois de um dia cheio desses já prevejo meu stress. Pra falar a verdade já acordo estressada e passo o dia uma pilha de nervos.
- Que é isso perua? Stress, você?
- É baranga, pra você que não faz nada é muito fácil não se estressar!
A piniqueira Creusa é uma mulher nascida no sertão do Sergipe, que foi para São Paulo desde menina, entre faxinas e faxinas, privadas e privadas, tanques e mais tanques de roupas. Hoje, secretária de uma perua.
Creusa que sempre viveu trabalhando como uma louca com a cara na merda dos outros limpando privadas e mais privadas, sempre teve o sorriso no rosto, a simpatia de um macaco e paciência de um egípcio, nunca destratou ninguém nem nunca teve massagista, esteticista ou analista. A perua, essa nunca deu um prego numa barra de sabão e vive com cara de pamonha azeda.
Onde estaria a alegria? O que nos torna felizes, nós mesmos ou a ação dos outros para conosco? O que somos ou o que temos? O que fazemos ou o que nos fazem? O que é ou o que foi? O que conquistamos ou o que ainda conquistaremos? O que nos torna felizes, matar ou morrer?
Sei lá!...
Enquanto a perua chora, a piniqueira ri!