Redução da jornada de trabalho

Novamente, volta à tona a redução da jornada de trabalho. Haja vista, a muito deveria ter ocorrido, não fosse, visões ultrapassadas e, defesa de interesses, que garantem apenas direitos individuais ao ócio, a uma pequena parcela da sociedade, usufruindo única e exclusivamente de uma força de trabalho exaustiva nesta fileira produtiva.

Aprovado, nesta segunda-feira, pela comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, o relatório favorável à proposta apresentado pelo deputado Vicentinho (PT-SP), ainda tem um longo caminho pela frente.

Opositores já questionam que o momento, em plena crise, não é oportuno para se discutir redução de jornada de trabalho. Mas, pergunto: quando será o momento?

Em uma sociedade há aqueles que trabalham e os que comandam o trabalho alheio, pouco importando se conhece ou não trabalho, onde o que importa é o domínio da palavra e da escrita para manter uma legião de trabalhadores stressados assegurando lhe o seu descanso.

Visão de que o trabalhador não pode usufruir de lazer e um pouco de descanso já está há muito tempo desatualizada e somente pode ser defendida, obviamente, por quem não trabalha e vive do ócio à custa do suor de muitos trabalhadores.

A redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais já é tardia e diminuta. O tempo disponível para o trabalhador dedicar-se à sua família, estudo, conhecimento, lazer, divertimento, está próximo de zero. Sem contar que para uma pessoa se divertir ela tem que estar descansada.

Esta pequena diminuição na jornada de trabalho é passo inicial de uma longa estrada que deverá ser seguida para se encontrar o verdadeiro valor da vida. Ou seja, trabalhar para se viver e não vice-versa. Tomo a liberdade de usar o pensamento do brilhante filósofo Bertrand Russell quando analisa os problemas sociais do século XX, em seu livro “O elogio ao Ócio”, onde a tese central de Russel é que o trabalho não é o principal objetivo da vida. Se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar.

Longe de chegarmos às 4 horas de trabalho diárias defendida por Russel que: “deveriam ser o suficiente para dar as pessoas o direito de satisfazer as necessidades básicas e os confortos elementares da vida e que o resto de seu tempo deveria ser usado da maneira que lhes parecesse mais adequada”... Pg. 33. Os grandes pensadores sempre estiveram em média cem anos à frente de sua geração, e, infelizmente, nossos empresários e governantes mal enxergam os dias atuais.

O avanço tecnológico que presenciamos espantados, que facilitaria a vida do trabalhador, da sociedade, proporcionando maior tempo de lazer às pessoas, tomou o rumo contrário. As máquinas trabalham com alta produção e o funcionário trabalha com excesso de horas, em detrimento a uma fatia enorme de desempregados, excluídos.

A diminuição da jornada de trabalho, embora pequena, pode trazer sim, um número de desempregados a ativa, tomando como base a produção que tem que se manter, mesmo em épocas de crise. Com a redução da jornada de trabalho, o trabalhador dispõe um pouco mais de seu horário ao descanso e uma parcela deles ingressa no meio produtivo.

Muito aquém dos propósitos de Russell “as pessoas poderiam se engajar na busca de atividades” “agradáveis, compensadoras e interessantes”, com este pequeno tempo a mais disponível. Passo infantil para inversão de valores. Onde o objetivo da vida é viver. Não somente produzir, sem poder consumir e se consumir não poder usufruir, porque não se pode parar de produzir. Difícil? Não. Apenas estamos atrasados.

Edson Alcarde
Enviado por Edson Alcarde em 01/07/2009
Reeditado em 04/07/2009
Código do texto: T1677386
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