Trombadas

Sempre fui dada a dar trombadas. Aquelas de criança já nem lembro. Só de uma que me ficou na memória. Ia eu saltitante, como as meninas gostam de andar, olhando os desenhos branco-e-pretos da calçada, tentando pisar só num ponto deles, quando dobrei a esquina. Minha cabeça encontrou então um obstáculo, felizmente macio. Era a barriga de um senhor! Pai de uma amiga! Que vergonha passei.

Mas nem sempre se encontra pais de amigas pelo mundo. Nem barrigas macias. Já bati a cara na porta de vidro de um bar. Pensei que estivesse aberta. Foi um estrondo. Além do impacto, o barulho dos óculos. E eu não estava bêbada, era de manhã, tinha ido apenas tomar um cafezinho...

Outra vez, foi à saída de um luxuoso banco. Adivinhem onde? Na avenida Champs Elysées. Mas não foi no vidro que bati, dei um tremendo encontrão num homem. Frente a frente. O susto foi tão grande que gritei. Bem alto. Ele também gritou. Quase um barraco. Quando eu ia dizer “excusez-moi,monsieur”, saiu “desculpe”. Ainda atrapalhada, pude ouvir a voz dele: desculpe! Era um brasileiro que eu andava evitando, não queria ver de jeito nenhum. Acabamos rindo, embora meu riso tenha sido meio amarelo.

Mas a pior delas aconteceu no aeroporto de Madri. Atrasadíssimos para o embarque, eu corria atrás do meu marido, empurrando o carrinho com as malas. Não deu outra, atropelei um espanhol! Furioso, o homem soltou a exclamação: “se me rompe la pierna!” Até agora, tanto tempo passado, ando encafifada com esse “se”. Sei que não é condicional, porém...

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Excusez-moi, monsieur: desculpe, senhor

Se me rompe la pierna! : me quebra a perna! ou talvez: quer me quebrar a perna?