AUTO AJUDA??

Quando meu filho caçula tinha por volta de seus 11 anos, levou um baita tombo de skate. Fraturou o braço direito e deslocou o osso de seu lugar oiginal. Ficou engessado 45 dias e teve que escrever com a mão esquerda na escola ou recorrer a ajuda dos amigos.

Um mês após o ocorrido, jogando uma partida de futebol na escola, caiu sobre o mesmo braço e o quebrou exatamente no mesmo local. Mais trinta dias convivendo com o braço branco-encardido, repleto de assinaturas.

O médico avisou: “- Uma terceira fratura no mesmo ponto e o braço fica deformado!”

Passado um tempo lá está ele se aventurando em seus patins in-line em manobras arriscadíssimas, desafiando a gravidade e minha paciência.

Do alto de minha sabedoria de mãe aviso: “- Menino! Você não tem medo de quebrar o braço de novo?”

Singelamente, me encarou com o olhar mais meigo do mundo – e só quem conhece um destes deliciosos “capetinhas”, sabem o que estou dizendo, - respondeu:

“- Ô mãe, não leve a vida tão a sério!”

Neste instante eu me dei conta de que aquele pequeno ser que eu conhecia tão bem ou que julgava conhecer, aquela criatura a qual até então sempre manipulara, com as recomendações-padrão:

“- Escove os dentes!”

“- Faça a tarefa!”

“- Não esqueça de levar o agasalho!”;

Aquele moleque de repente estava filosofando bem diante dos meus olhos!

A partir deste momento ficaram delineadas duas coisas: a personalidade dele e a minha impotência diante do inevitável!

Meu filho estava me ensinando algo, os papéis finalmente estavam sendo invertidos, e eu tinha sim algo a aprender com ele.

Hoje percebo que meu filho antecipou-se a uma corrente que tem se tornado febre ultimamente: aquela que pretende ditar nossa forma de agir, de pensar, de como devemos nos portar e agir para alcançarmos a felicidade.

Atualmente lemos toneladas de livros de auto-ajuda, e recebemos diariamente correntes pela Internet com mensagens, dicas e conselhos para aproveitarmos melhor a vida. Quem ainda não viu:

“- Faça o bem, o que fizeres ao outro retornará para ti” (A lei da atração, já entrou na minha lista de e-mails umas dez vezes.)

“Carpe Diem” (Apresentações em Power point com bebês fofinhos, lindas paisagens e a onipresente música de Roberto Carlos atualizada pelos Titãs: É preciso saber viver!)

“Filtro Solar” (Imagens de crianças desnutridas, pessoas maltratadas e a música Epitáfio para nos fazer pensar.) - "devia ter trabalhado menos..."

Tudo isto veio bem depois daquela "lição de vida" recebida do meu filho, que hoje está com vinte e três anos, estudando, trabalhando, namorando, e ... levando a vida bem a sério!