O que eu vou dizer a mim mesmo!?

O que vou dizer a mim mesmo!?

Foi no carnaval do ano passado que te conheci, chovia bastante, o céu era escuro e uma multidão aglomerada na praça, uma mistura heterogênea de foliões, mascates, transeuntes e outros, que se acotovelavam num vai e vem incessante. Aqueles cabelos aloirados, molhados pela chuva emolduravam um belo rosto, que com largo sorriso demonstrava uma indômita alegria, a pujança de mulher feita e o furor inesgotável da juventude. Já há algum tempo a observava, de longe, inexplicável, pois no burburinho passaram por mim varias mulheres igualmente bonitas mais que não mereceram nenhuma atenção, até que, como num passe de mágica, ela voltou-se em minha direção, desfez o sorriso, seu rosto pálido adquiriu um ar de surpresa, senti um frio a percorrer a minha coluna dorsal, o meu coração bateu apressado, ante aquele par de olhos tão azuis e brilhantes como o primeiro orvalho da primavera, foi algo inesquecível, para mim, um acontecimento inédito, foi como se de repente, os instrumentos musicais emudecessem, as pessoas ficassem paralisadas como uma grande platéia que nada via, nada falava nem se movimentava ante a grandeza daquele momento de espera... Passaram-se 200 anos desde o nosso ultimo encontro, aquele olhar nunca fora esquecido, aqueles cabelos e, a doçura de teus lábios nos meus ficariam gravados como se fosse uma tatuagem de prazer e sedução.

Incontinente, de mim te aproximastes e como se já fossemos íntimos, interpelou-me: Voce! Há quanto tempo te procuro, enfim, voce está ótimo, nem parece ter mais de 200 anos, ao que respondí e voce, amada, está infinitamente mais bela que da ultima vez que nos vimos em Berlim! Nos abraçamos, beijamo-nos longamente e deslocamos para uma praça de grandes arvoredos, mais deserta por causa dos festejos, sentei perto de um grande pinheiro, desnudei o teu alvo corpo, suguei os teus ceios e, fizemos amor como se fosse a primeira vez...

Voltamos a praça da festa, a musica, a grande multidão, o som cada vez mais alto e forte, minha voz quase imperceptível e, mal ouví quando dissestes, vou avisar a minha irmã que te encontrei. Seguistes rumo a grande multidão, tentei em vão acompanhar-te, e, mais uma vez, desaparecestes da minha vida. O sol, ainda não se fora, a chuva dava uma trégua, a multidão agora aumentava assim como a musica, as mascaras, a alegria contagiante e, nem me apercebi, que o dia raiará sem que te encontrasse, mais uma vez, perdí , estava novamente só, eu, a praça e minha eterna solidão, alem da busca, da espera... quem sabe, daqui há mais 200 anos, ou entao a ciência avance e eu viaje a uma galáxia próxima e te encontre, ou meu espirito seja liberto da responsabilidade de te acompanhar, ou ao menos dizer-te mais uma vez, eu te amo meu amor...

Airton Feitosa

tributaryagf@yahoo.com.br