A hipocrisia que há em nós

Hipocrisia define-se pelo ato de fingir crenças, virtudes e sentimentos que verdadeiramente não se possui. Assim, estão no mesmo balaio a dissimulação, mentira, vício, falsidade, deslealdade, impostura e traição.

Quantos de nós não vivemos ao menos uma situação e hipocrisia, a cada dia que nos levantamos da cama? Mentimos quando afirmamos que a(o) companheiro(a) acordou com uma ótima aparência, mentimos quando dizemos às nossas crianças que estão mais bonitas sem os dentes que lhes faltam, dissimulamos o "bom dia" que nos acompanha por convenção social, falseamos quando perguntamos "tudo bem?' e nem ao menos esperamos a resposta, mentimos quando afirmamos que separamos o lixo orgânico do reciclável, que nos preocupamos com a crise, que estamos de dieta, que nos exercitamos por puro prazer.

Mas, convenhamos: quem de nós que ser o senhor ou a senhora sinceridade?

São dissimulações necessárias para tornar tolerável o convívio social com o porteiro que insiste em fazer gozações quando nosso time perde, para manter a auto estima da criança que acabou de perder os dentes, para que não nos vejam como insuportável criatura.

Mas, o maior perigo está na hipocrisia, na deslealdade, na falsidade com o próximo. Mentimos para nós mesmos quando acreditamos que ajoelhar e pedir é a salvação e que a redenção virá, a qualquer custo, independente de nossas atitudes. Normalmente, não estamos dispostos a mudar.

Queremos tudo como está! Votamos, sempre da mesma forma e as campanhas publicitárias em vésperas de eleições (e olha que as últimas foram, a meu ver, fantásticas!) vão sempre nos dar conta da importância de um voto para cada eleição. Sim, o meu voto é importante! MENTIRA.

Ele não é importante porque eu faço parte de um conjunto cego, de um conjunto que mente e é nele que eu me encaixo porque eu também minto. Mentira porque o presidente do Senado aidna está lá. Se fosse verdade, ele não mais estaria, mesmo não sendo um homem comum.

Realizamos todos nós nossos atos secretos, diuturnamente. Secretamente não nos importamos com o aquecimento global, com a necessária economia de recursos naturais, com a guerra no oriente médio, com as manifestações no Irã, com os regimes ditatoriais que estão por ai, com as crianças que morrem de fome na Àfrica. Qual nada! Nem ao menos nos importamos com as crianças que morrem de fome na nossa cidade! São os nossos secretos atos de "desimportância", nossa quota diária de hipocrisia.

Mas, não se trata de um texto de desesperança. Se somos os únicos seres pensantes que habitam esse planeta, precisamos começar a mostrar isso agora, amando mais, sinceramente. Cuidando mais, prudentemente. Doando mais, necessariamente.