Por amor se vive... Por amor se morre?

Quase morri na última noite.

O curioso é que eu estava exatamente me liquefazendo em desespero e lágrimas, quando pedi a Deus:

- Materializa de uma vez essa dor!

Eu sabia que se Ele fizesse isso eu poderia até sangrar, eu poderia até morrer. Então começou a chover em meus olhos, porque eu sou forte e porque eu queria que a morte desse sentir acontecesse sem fazer despedir a minha existência também.

E o chover em meus olhos mesclou-se com o vento da fúria e da indignação (Será que o meu amor não vê?) e assim o choro rendeu-se em tempestade e engolia em seco o silêncio de sempre; que eu vivo a angústia de não saber gritar o que eu sinto e tudo fica silenciado em mim mesma, como quem sofre de alucinações e apenas a ele é real.

A tempestade tornou-se furacão dentro de mim e em seu centro apenas vácuo...

Me faltou o ar, e não havia bombinha, não havia consolo, não havia ninguém ao meu lado. o que não configura nenhuma novidade, também a solidão sabe de mim...

Estou exposta a tudo e a todos, como as minhas feridas, o meu sentir, o meu amor, tudo despejado aqui e como todo despejo levado como lixo.

O ar que Deus soprou nas narinas do homem, lá no principio, na criação é o que lhe deu vida. E ontem quando o ar se foi, senti que Deus estava me arrancando a vida, me poupando de mais algum sofrer...

Por um momento o agradeci por aquilo.

E o coração teimoso que a todos os teus golpes insiste em resistir então se agitou palpitando cada vez mais forte, cada vez mais rápido dizendo ao corpo para reagir. E senti o peito doer e todo o corpo tremer e eu tremia compulsivamente, as lágrimas ficaram suspensas e tentei dizer ao coração para desistir, mas esse coração teimoso é surdo a não ser à sua voz. Mas você não estava aqui para lhe falar.

Me rendi aos seus apelos, como sempre me rendo, todo um corpo obedece a apenas um membro, o coração obstinado e metido a besta... E lá foi o corpo a obedecer-lhe, tomei um banho, me vesti apanhei os documentos e fui andando até o taxi quase sem conseguir, eu nunca havia visto um taxi ir tão rápido, o taxista quis ficar comigo no balcão do hospital e o compadecimento daquele homem me fez novamente chorar (Até um estranho se apieda desse sofrimento com que convivo e você... você... não sigo dizendo mais nada...).

Depois disso o médico, a chegada de meu pai... Meu silêncio. A dor no peito, os solavancos em meu corpo. Uma coisa em minhas narinas e um balão pra respirar, injeções, outro furo na veia um soro dessa vez... fios pra monitorar o valente que vive no peito...

E Deus se rendeu aos apelos do coração.

Sobra tanta falta sem você por perto...

Meu coração não se importa, ele deixa tudo assim: frágil, mas vivo. Ele diz que não se morre por amor, por amor se vive.

E se continuo viva é porque ainda há muito o que amar...

Ingrid Fernandes
Enviado por Ingrid Fernandes em 30/06/2009
Código do texto: T1675404
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