A LOUCA

A louca corre atrás dos meninos, que correm atrás da louca, que grita palavrões.

Acompanho de longe a cena.

Conheço bem esses meninos.

Conheço bem essa louca.

Deus me livre desses meninos macunaímas, soltos nas ruas, a invadir as casas e a fuçar nos quintais.

Deus me livre dessa louca maquiavélica, pastora dos maus espíritos, a pregar com sua língua viperina o ódio e o apocalipse nas praças públicas.

Levem esses meninos daqui: para a Febem, para “Never Land” ou a cochinchina.

Levem essa louca daqui: para o manicômio de Ezra Pound, para a torre de Ismália ou a Base de Guantánamo.

Essa louca é ave agourenta. Ela me faz lembrar Cununa, a louca da minha infância, que corria atrás de mim todas as noites, quando, após a “Voz do Brasil”, eu saía para comprar cocadas brancas na casa de Dona Isabel, na Rua das Canelas.

Essa louca é trágica, é a reencarnação de Medéia.

Daqui a pouco ela esquecerá os meninos e atirará pedra nos pára-brisas dos carros, para desespero dos motoristas, e mostrará língua, fará careta e correrá para os becos, com os cabelos despenteados e a risada mefistofélica.

Conheço bem essa louca.