DEMOCRACIA EDUCACIONAL (Assim se faz autonomia?)
Claudeci Ferreira de Andrade
Neste mês, consta no calendário escolar mais um “Sábado Letivo”, um bom dia para acontecer aquele encontro de professores para ajustarem o currículo de estudo da modalidade supletivo, já há muito planejado. Só uma coisinha faltava para os integrantes da equipe organizadora: como fazer para que, na capacitação, obtivessem a presença de todos os professores já convidados. Então, idealizaram uma manobra para compensar o dia trabalhado dos que comparecerem: via ofício, comunicaram que ganhariam dois sábados letivos posteriormente se tão-somente contribuíssem nas atividades dos dois períodos do tal sábado - matutino e vespertino – e a lista de frequência correria no final da tarde como parte da artimanha.
Assim aconteceu, foi de surpreender a presença deles no turno matutino, ali estavam 70% dos professores esperados. Essa aquiescência deveu-se puramente à estratégia técnica, ou ao café-da-manhã, ou ao almoço? Para você que está achando essa pergunta descabida e inconveniente, explique-me a razão dos só 30% que assinaram na folha de frequência, levando ainda em conta, os que chegaram só depois do almoço! Porém, os gazeteadores não contavam com o implacável “corte de ponto” que veio depois como consequência da “improdutividade”. Então, justificaram-se, os que se achavam injustiçados, um após o outro:
— Me disseram que o café-da-manhã era pão, leite, toddy, pão-de-queijo, salgados e bolos! Mas, me enganaram, foi apenas refrigerante com pão e margarina, então para não ser gorado também no almoço, saí mais cedo quando a cabeça já queria doer.
— Olha, para mim coisa abominável é a atitude de vocês, também professores, mas, viabilizando nosso prejuízo. É como a tempestade, arrancando árvores e fazendo erosão! É o pobre explorando o pobre! É o perdoado de uma grande dívida cobrando ao seu devedor de pouca coisa!
— Estou insatisfeito por pensar em perder meu ponto, pois não tenho justificativa alguma, apenas fiz minha proposta de Geografia e achei ser isso o suficiente, porém falei com o professor Fulano no Carrefour, e ele me falou que tem um grupo dos ameaçados que vai entrar com um processo na justiça se for consumado o “corte”. Tomem cuidados!
— Perguntei para o coordenador da sala em que participei, ele me falou que não tinha lista de presença! Nem para me explicar que não tinha uma lista ali, mas tinha uma geral que passaria no final da tarde. Por isso, fui embora sem assiná-la, já que não poderia estar ali naquela manhã por causa doutro compromisso.
Aquele que classificava as falas disse ironicamente:
— Nada como uma boa declaração para reparar!
Concluí, todos nós vemos o que queremos, e, nesse particular, digo que a próxima convocação terá mais força, e a reunião será levada mais a sério sem ser preciso colhermos evasivas. Isso é democracia educacional e autonomia escolar. Se funcionar é o que importa, questionar é um mero detalhe, e por aqui, as mudanças acontecem muito lentamente.
Encaminhamento de percepção
1- O que motivou a ironia daquele que classificava as justificativas dos gazeteadores?
2- Defina melhor Democracia Educacional e Autonomia Escolar.
3- Trace o perfil psicológico de cada um dos entrevistados por sua justificativa.
4- Que características deve ter a reunião sabatina para caracterizar-se um “Sábado Letivo”?
5- Qual das justificativas lhe parece mais mentirosa? Justifique.
6- Em que momento o narrador se inclui na equipe organizadora?
7- Faça sua ilustração para a crônica que acabou de ler.