O BRAÇO E A QUEDA
Adolescentes, eu, menina de treze anos e meu irmão Gabriel de dez, magrinho, bem menor que eu, entendíamo-nos ás mil maravilhas. Divertidos, unidos, eu mandava nele, pois achava que ele era meu. Pais mineiros, não deixavam ir à rua, exceto para ir às aulas ou andar de bicicleta, que era uma só. Um na garupa, o outro pedalando. Ou, cada um num pedal num sobe-desce de diversão. Sempre unidos, ele foi o meu maior amor. Ele se libertou do meu mando num dia, em que pedi para apanhar algo que estava mais perto de mim que dele. Nossa casa tinha as janelas abertas para uma área comprida, e ele estava lá no final. Cheguei á janela e um objeto caiu da minha mão na área. “Pega aqui pra mim!” Para minha surpresa ele não se moveu do lugar e gritou: _ “Não vou!” Entendi que terminara o meu mando. Ele assumia sua individualidade. Respeitei-o. Amei mais ainda. Amava também o nosso pai, que começava a fazer distinção entre filha e filho. Sua atenção de fazer caminhada pela linha da estrada de ferro papeando, caiu sobre meu irmão. Começou a sair só com o ele e recusando que eu fosse. Eu ficava na janela da varanda. Sentida. Foi um golpe duro, uma escolha. E o Gabriel era muito bom, precoce e veio a ser muito inteligente, mais falante, mais solto. Eu tinha inveja dos papos que os dois faziam na caminhada dos trilhos da linha. Engoli. Ainda não cogitara no que é o amor. Eu já o sentia, mas não sabia. Um dia, na calçada oposta á nossa casa, vinha o Gabriel andando, feliz da vida, despreocupadamente. Sofreu uma queda inesperada, e fraturou o antebraço ou os dois braços, pois na queda, tentara apoiar-se com as mãos. A uma gritaria geral dos vizinhos corremos até lá. Fratura exposta, um braço sangrava. Meu coração sentiu uma dor nova. Meu pai se transtornou. Expressão dolorosa de desespero e amor pelo filho era indizível. Nunca vira meu pai assim. Amor paternal e dor. Chorava e cobria o filho de carinho, tomando-o nos braços com a fisionomia transfigurada de sofrimento e dor. Guardo bem essa imagem quando um pai ama seu filho e por ele teme. Vi a força do amor _ meu pai deixava à luz, sua capacidade de amar, o que normalmente ocultava. Um choque emocional, tanto quanto eu sofrer pelo meu irmão. Levou-o para o hospital, e ao seu lado ficou. Voltaram juntos pra casa, quando já estava tudo bem. Nunca eu vira tal expressão de amor. O pai chorava e o filho sorria, e são. O amor pelo filho foi tal, que compreendi aquela dor de pai.
Conheci outra face do amor. Pela dor.
Adolescentes, eu, menina de treze anos e meu irmão Gabriel de dez, magrinho, bem menor que eu, entendíamo-nos ás mil maravilhas. Divertidos, unidos, eu mandava nele, pois achava que ele era meu. Pais mineiros, não deixavam ir à rua, exceto para ir às aulas ou andar de bicicleta, que era uma só. Um na garupa, o outro pedalando. Ou, cada um num pedal num sobe-desce de diversão. Sempre unidos, ele foi o meu maior amor. Ele se libertou do meu mando num dia, em que pedi para apanhar algo que estava mais perto de mim que dele. Nossa casa tinha as janelas abertas para uma área comprida, e ele estava lá no final. Cheguei á janela e um objeto caiu da minha mão na área. “Pega aqui pra mim!” Para minha surpresa ele não se moveu do lugar e gritou: _ “Não vou!” Entendi que terminara o meu mando. Ele assumia sua individualidade. Respeitei-o. Amei mais ainda. Amava também o nosso pai, que começava a fazer distinção entre filha e filho. Sua atenção de fazer caminhada pela linha da estrada de ferro papeando, caiu sobre meu irmão. Começou a sair só com o ele e recusando que eu fosse. Eu ficava na janela da varanda. Sentida. Foi um golpe duro, uma escolha. E o Gabriel era muito bom, precoce e veio a ser muito inteligente, mais falante, mais solto. Eu tinha inveja dos papos que os dois faziam na caminhada dos trilhos da linha. Engoli. Ainda não cogitara no que é o amor. Eu já o sentia, mas não sabia. Um dia, na calçada oposta á nossa casa, vinha o Gabriel andando, feliz da vida, despreocupadamente. Sofreu uma queda inesperada, e fraturou o antebraço ou os dois braços, pois na queda, tentara apoiar-se com as mãos. A uma gritaria geral dos vizinhos corremos até lá. Fratura exposta, um braço sangrava. Meu coração sentiu uma dor nova. Meu pai se transtornou. Expressão dolorosa de desespero e amor pelo filho era indizível. Nunca vira meu pai assim. Amor paternal e dor. Chorava e cobria o filho de carinho, tomando-o nos braços com a fisionomia transfigurada de sofrimento e dor. Guardo bem essa imagem quando um pai ama seu filho e por ele teme. Vi a força do amor _ meu pai deixava à luz, sua capacidade de amar, o que normalmente ocultava. Um choque emocional, tanto quanto eu sofrer pelo meu irmão. Levou-o para o hospital, e ao seu lado ficou. Voltaram juntos pra casa, quando já estava tudo bem. Nunca eu vira tal expressão de amor. O pai chorava e o filho sorria, e são. O amor pelo filho foi tal, que compreendi aquela dor de pai.
Conheci outra face do amor. Pela dor.