Que a queda “quede” e o braço “brace”

A primeira vez foi na descida do ônibus. A semana já não estava boa, a chuva caía sem parar e o frio, pela primeira vez estava me angustiando. “Mas o que é que uma casca de laranja estava fazendo no meio da rua?” Parecia que alguém havia colocado ela ali naquele chão molhado, bem onde eu ia descer só pra me ver cair. Talvez esse alguém não soubesse que eu teria os braços da minha irmã pra me segurar. Minha sensibilidade já estava à flor da pele, não hesitaria em chorar se caísse.

Depois a queda de parecer ridícula com meus pensamentos negativos diante de tanta gente fazendo o contrário. Desta vez os braços que me sacudiram dizendo: “acorda” foram de um pequeno príncipe. Me surpreendi quando um dos meus grandes amigos me deu aquele presente, ainda faltava uma semana para meu aniversário... Mesmo assim abri ansiosa... foi uma surpresa quando vi o livro. Ele sabia que eu gostava... Por isso me fez mais feliz...gosto quando meus amigos me conhecem. Eu agradeci e fui logo dizendo: “eu adoro a parte que ele vai ao planeta do geógrafo!” os braços então se abraçaram.

A terceira queda foi... Enfim! Decidi parar de contar! Pra que tantos números? Damos mais importância a idade de uma pessoa que ao seu timbre de voz ou cor dos olhos. Na volta, com o livro pressionado contra o peito, eu pensava em nem tirar do plástico. Poderia guardar daquele jeito mesmo, pra conservar... porém o otimismo veio: “se eu não o ler, ele não estará cumprindo sua função...um livro deseja ser lido...é pra isso que eles existem”. Tive muitas quedas nestes dias - de memória, de pressão - mas elas apenas ‘cumpriam sua função’. Sem elas eu nunca saberia com quantos braços eu posso contar, inclusive com os meus. É isso: se cada coisa cumprir a sua função tudo funcionará corretamente. Que as coisas ruins nos fazem valorizar as coisas boas todo mundo já sabe, por isso desejo: Que o livro “livre”

Que os olhos “olhem”

Que a boca “boque”

Que a letra “letre”

Que a palavra “palavre”

Que a queda “quede”

E que os braços....(a)bracem! Ai de mim, se não pensar assim.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 30/06/2009
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