Casamento na madrugada
O nosso colega Almir era um rapaz metido à conquistas por toda cidade que passava. Considerava-se muito importante, por ter varias namoradas por toda cidade aonde ele ia; julgava-se um garanhão”.
Os colegas estavam sempre a alertá-lo que um dia “a casa podia cair”. Ele respondia: “que nada”, o importante é ter a “mulherada” nas mãos. Nós éramos Representantes comerciais, naquele tempo mais conhecidos por “viajantes”. As moças das cidades. Gostavam de namorar viajantes, diziam que na cidade não havia homens.
De fato Almir era um rapaz de boa aparência e simpático, diferenciava-se dos colegas, pelo modo extravagante em se trajar. Vivia sempre bem vestido e perfumado. Gabava-se de ser um conquistador; sempre tinha nas mãos a mulher que queria. Gostava de falar das garotas que ele namorava por todas cidades de sua região..
Pois bem; estávamos em Aquidauana, cidade do Mato Grosso, reunidos com vários outros colegas no saguão do hotel num bate-papo amigável, quando Almir disse que naquela noite sairia com uma gata muito legal, pois já havia saído com ela outras vezes; “que mulher espetacular”! Dizia ele. Disse ainda que na noite anterior, em Campo Grande havia feito um “programão” com uma garota de fazer “parar o trânsito”. Depois de contar várias proesas com garotas, disse que já ia se aprontar para o encontro daquela noite. Nós sempre achávamos que ele era um “papudo” por contar grandezas.
Estávamos ainda sentados no saguão do hotel, quando ele passou impecavelmente vestido e perfumado, deu um leve aceno de mão pra nós e disse: “tô indo”.
Tarde da noite, lá pelas duas horas da madrugada, fui acordado por um tremendo reboliço no corredor do Hotel. Era gente falando alto, voz de mulher, de homem... Várias vozes falando ao mesmo tempo; ouvia-se ainda um choro de mulher que pelo jeito devia ser de alguma moça, e ao mesmo tempo um barulho de alguém batendo na porta. Uma voz grossa e forte falou: “Abra a porta, senão vamos arrombá-la”; gritou alguém. Nesse instante, abri a minha porta bem devagar, para ver o que estava ocorrendo, e vi que era o quarto do Almir.
O meu quarto ficava no mesmo corredor a uns cinco ou seis metros de distância.
Os falatórios não eram nada agradáveis. Levei um susto daqueles em ver na porta do quarto do Almir, dois homens de chapéu grande na cabeça e revolver 45 na cintura, mais duas mulheres e o Almir no centro da confusão. Não gostaria de me intrometer no assunto, seja ele o que fosse. Fechei a porta devagarinho e fui dormir: o assunto não me interessava.
Depois de algum tempo, Almir falou: “podem me esperar que vou acompanhá-los”.
No dia seguinte, ficamos sabendo do desfecho: os figurantes eram: uma moça, o pai dela, a mãe e o Delegado, que foram “gentilmente convidar” o Almir para um casamento na Delegacia, senão...
Nunca mais vi o Almir. Dizem que naquela mesma noite, casou-se e foi morar em Ponta Porã, fronteira do Paraguai, e de lá, depois de algum tempo, se mandou. O fato é que até hoje ninguém tem notícias dele.
Com os meus botões, quedo-me a pensar...
“Será que ele se mandou mesmo, OU...” .