Eles olhavam tanto pra mim...

Tínhamos, até há pouco tempo, um Escort preto 2001, quer dizer, um carro bom, ágil, econômico, gostoso de dirigir, mas nada chamativo. Nunca pelas ruas percebi alguém que o olhasse admirado. Nem para ele, nem para mim.

A não ser numa tarde em que viajávamos pela via Dutra em direção a São Paulo. Íamos, José e eu, tranqüilos pela estrada afora, quando comecei a notar que pessoas voltavam-se à nossa passagem. De início não dei importância, aliás, pareceu-me apenas uma impressão. Mas os olhares continuaram, cada vez mais interessados viravam o pescoço a cada ultrapassada.

Puxei o espelhinho e mirei, tudo em ordem com minha cara de sempre. José tampouco parecia-me transtornado ou descabelado. Por que será que atraíamos tanto a atenção?

Só depois de algum tempo é que me dei conta. Fixada no teto do nosso carro transportávamos a prancha de surf do filho, para entregar-lhe. Foi então que tive o primeiro ataque de riso.

Daí em diante passei a curtir a curiosidade alheia e até dava sorrisinhos enigmáticos aos passantes. A coroa aqui voltava satisfeita da praia, sim senhores, depois de ter surfado à beça...