E Se Só Existissem Mulheres no Mundo?
- Toalha?!
- Aqui está, João!
- Perfume?!
- Sim, meu amor!
- Escova?!
- Aqui, querido!
Maria era uma típica Amélia. Fazia tudo que seu marido mandava. Bastava pedir e esticar a mão, que de pronto Maria obedecia. E o que mais podia fazer? Era excelente dona de casa: lavava, passava, cozinhava. Cuidava também das contas do marido e de seus freqüentes trambiques. Mas com isso ela nem se importava. Não tinha parentes, nem filhos, não sabia fazer mais nada na vida, dependia de João para tudo. E como Maria odiava tudo aquilo!
Numa noite pensou: - E se só existissem mulheres no mundo?! E assim decidira matar João. No outro dia, acordou cedo como de costume, preparou o café, o banho, a marmita e a roupa de João, que saiu para trabalhar.
Maria, então, passou a tarde cozinhando seu prato preferido: feijoada.
À noite, João comeu o quanto pode e dormiu. Morrera dormindo com um tiro na cabeça. Maria, ao seu lado, calma, fumava, triunfante de sua façanha. Teria finalmente sua liberdade. Não obedeceria mais ordens de ninguém, ou pelo menos de nenhum homem.
Mas, logo a polícia chegou. Na sua loucura, nem se preocupara com o barulho do disparo ou onde esconder o corpo.
Maria foi presa.
Na mesma noite, passado algumas horas, um poderoso certo alguém, de nome certamente conhecido decidiu por algo certamente estranho: todos os homens do mundo sumiriam.
E assim, o namorado de Ritinha sumiu. O patrão de Cacilda, o médico de Mariana, o filho de Virgínia, todos sumiram.
Tudo se tornou confusão: umas choravam, outras riam e algumas só observavam espantadas.
E, com os anos, tudo se ajeitou. As mulheres estavam em todo o tipo de trabalho, até as guerras se acabaram.
E Maria... Maria só chorava, esfregando o chão da delegacia e obedecendo as ordens da delegada.