Inocêncio - Lembrança de um jornalista
Levou consigo seu chapéu de palha e na mão o amarelo do fumo.
Levou um embrulho de seda, no bolso um lenço de papel. Terno furado pela brasa do cigarro esquecido entre os dedos frouxos, tombados pela idade.
Foram tantos os lamentos da Rita, os sorrisos da menina morena, que em algum momento do dia ele esqueceu do problema.
Na pasta o bilhete da loto, nos pés, a meia furada...
O sapato de bico fino no verniz mais gasto do armário, no rosto os traços da vida.
Homem safo, sorriso de lado, o cigarro sempre aceso, mistura de cheiro de tabaco e mofo, mas era um cheiro de roça, um odor gostoso, mistura de perfume e naftalina, trevas e luz.
Fazia poesia de improviso e decorava poemas famosos recitando para as meninas.
Um metro e cinquenta e oito, parecendo ainda mais baixo pelo bigode enorme com a ponta viradinha para cima que emoldurava seus rosto enrugado. Autoditada, inteligência traçada na lida, na luta, na vida.
Jornalista consagrado pela notícia, hoje lenda viva, marca do Sul das Gerais, inocente cidadão onde jás as notícias do tempo que não volta mais...