Lição do Tempo
Os seres comuns nascem, crescem e vivem pelo mundo e não são bem notados por gentes importantes; por gentes não importantes; por gentes de sucesso; por gentes de fama, glória ou poder. Os seres comuns são efêmeros e são esquecidos mais rápido que o normal, pois não marcam a história, não viram estórias – e nem história – mas são jogados como a escória de um povo que não tem mente para lembrar ao menos de seu sorriso.
Uma criança nasceu num berço pobre, porem não teve a mesma oportunidade que uma criança rica teve. Então, ele não se transformou num cirurgião plástico de sucesso; num ator cheio de fama; não se tornou em um apresentador ou em um jornalista de sucesso; nem em um empresário; nem em um cantor; nem em um compositor; nem em um homem cheio de sabedoria; nem em um professor de línguas; nem em um vendedor de sucesso; nem em um homem simples com uma boa profissão. Ele simplesmente foi um trabalhador trabalhando na área de produção de uma empresa qualquer em um lugar qualquer, com pessoas normais e qualquer, iguais a ele. Ele ia de manhã à panificadora comprar pãozinho e leite para sua família comer todos os dias. Assim, ia trabalhar num ônibus qualquer, igual aos outros, com o mesmo valor que os outros. Nunca deixou faltar nada em sua casa, deu amor e recebeu amor de sua família. Sua idade passou e ele envelheceu e o seu corpo já não é mais o mesmo como era na juventude. Agora ele olha para o passado e vê que não fez nada de glorioso à vida toda, mas mesmo assim se sente feliz, porem, enfadado por causa da idade. O país não viu o seu valor, o seu esforço e trabalho de uma vida digna e honrada, então, ele morre e desce a terra fria em um lugar qualquer e é enterrado num cemitério qualquer... Dali uns dois ou três anos ninguém mais se lembra dele senão a própria família.
Uma criança nasceu e obteve oportunidade para ser alguém de sucesso na vida. (Coloco agora que, para ser uma pessoa de sucesso não se precisa ter dinheiro, fama, glória ou poder, basta apenas se sentir realizado). Ele virou um pintor e foi reconhecido, mas a honraria que ele merecia ter em vida não foi dada, só foi realmente dada depois de alguns anos de sua partida. Ele foi lembrado depois de morto e permanecerá vivo no coração de muitos que viram e gostaram de sua obra, no entanto, ele é morto.
As pessoas não estão ligando mais para a vida e nem sua parte boa. Eu acabei de colocar nesta crônica dois fatos diferentes e ao mesmo tempo iguais. Iguais, pois são duas vidas e toda vida tem o seu valor. Um deles venceu no sentido de ser um pai de família, no sentido de ser um trabalhador e fez muito por seu país mesmo sem saber. O outro venceu no modo artístico e não o reconheceram, assim como o pai de família que não foi reconhecido, mas o pintor teve sucesso em sua morte e agora sempre é lembrado. Mas, o tempo passou também e a outras gerações vieram e a sua fama também passou porque surgiu um novo pintor, um pintor mais moderno e com idéias diferentes, com um estilo diferente... e a história sempre se repete.
O homem é tolo por não saber valorizar a sua espécie. O homem tem que aprender a dar valor para a vida e saber que sua glória é como o dia, um dia qualquer que passa depressa, todo mundo se esquece dele e ele nunca mais volta.
07/03/03 21h44min