Miséria da educação
Araçagi é uma pequena cidade do brejo paraibano, que vive somente do Fundo de Participação dos Municípios. Não me cabe analisar dados econômicos e políticos para no fim apontar as causas do atraso econômico e social dessas pequenas cidades, que isso é papel dos cientistas. Como vivo a realidade no dia-a-dia dessas pequenas comunas, tenho cá com meus botões que isso se deve à irresponsabilidade dos dirigentes, da classe política nessas comunidades. Eles não têm nenhum compromisso com a educação, por exemplo. Você vê as crianças sendo transportadas em caminhões para as escolas, as unidades educacionais dos municípios abandonadas, professores sem capacitação e sem nenhum incentivo.
Em Araçagi, soube que a merendeira foi alçada ao cargo de diretora de uma escola na zona rural, por ser muito amiga do prefeito e ter dado uns votos para ele. Com a vitória do candidato da oposição, saiu a merendeira e assumiu o cargo o porteiro, que é um fiel cabo eleitoral do atual prefeito.
Uma escola onde a merendeira tem cargo de direção, e o porteiro idem, é apenas uma das muitas anomalias na área educacional nesses confins. Na cidade de Mari, assumiu o cargo de prefeito um grande produtor rural (isso no final da década de 80) que não tinha muita intimidade com as letras. O jardineiro da cidade tinha diploma de terceiro grau. Quando o jardineiro tomava umas carraspanas, saía pela rua gritando:
--- Mari, cidade onde o prefeito é analfabeto e o jardineiro é doutor!
A Paraíba é feita dessas inversões de valores. O efeito vinculante é a massa de semi-analfabetos que sai dessas escolas, para reproduzir a miséria que por sua vez reproduz os modelos arcaicos da política das oligarquias. E o atraso continua.
Em verdade, as nossas esperanças históricas quase que se esvaem no quesito educação. Razão tem o senador Buarque quando defende a federalização de todas as escolas do país. Por que todo rico quer estudar em escolas federais? Porque tem qualidade, os professores são qualificados e bem remunerados. Imagine uma escola desse tipo para nossas crianças pobres, na educação de base.
O poder de criação e sensibilidade do nosso povo superou muitas vezes o atraso educacional. Os maiores poetas populares eram analfabetos. O espírito generoso do meu povo escreveu uma história cultural muito bonita, mas na hora da onça beber água, quando a gente precisa de pessoas qualificadas para produzir o progresso material, o Nordeste fica na rabeira por falta da educação formal. O poeta Zé da Luz escreveu um belo poema sobre um assassino que matou a esposa porque não soube ler um bilhete que ela escreveu para um galanteador. “Que crime não saber ler!”, exclamava o poeta.
Pois aqui eu digo: que crime se comete contra o futuro de uma geração, quando se abandona a educação e, pior, se usa para fins de politicagem.