OLHANDO  O  TEMPO...


Acordo. Olho o relógio, olho o tempo. Mas, que tempo olho? O tempo que passa e não existe ou o tempo presente que me diz se ponho ou não um agasalho? Olho o dia, cinzento, triste, monótono. O cinza me invade o corpo, toma conta de minha alma que, numa tristeza infinda, chora um colo ou um ombro para repousar. Eu disse "chora"? Como chorar se nenhuma lágrima me brota dos olhos? Meu soluço é seco, tão seco quanto a aridez dos desertos; é como o mandacaru que aos céus eleva uma prece, implorando uma gota d'água. 
Paro de olhar e penso: Em que tempo estou? Onde vivo? Minhas palavras não parecem brotar de alguém do século XXI, mas de românticos do século XIX, cuja angústia de viver era o lema dominante.Não vou ficar triste. Nada vai perturbar a calma deste domingo de manhã cinzenta. As manhãs sem sol são também bonitas, sugerem descanso, leitura, oração.
Leio o jornal, as notícias, quase sempre desagradáveis, pois o bem geralmente não é notícia.
Ergo os olhos aos céus e faço uma prece:_Senhor, dá-me o dom da fortaleza para que não naufrague no mar tempestuoso do cotidiano; dá-me fé para que reconheça a transitoriedade da caminhada terrena e possa um dia transpor firme e feliz a grande porta do infinito e exclamar como o apóstolo Paulo:"Combati o bom combate..."
Olho o tempo.
Olho o relógio do tempo e prossigo na minha caminhada domingueira.
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Angélica Gouvea

C om certeza
E ste olhar
L evou você
I nspirar-se
N os trazendo
A beleza desta crônica.

 Kathleen Lessa
O tempo sob teus olhos
reflete mudança e medo.
O tempo nos teus espelhos
é só saudade e segredo.