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UMA HISTÓRIA DENTRO DA HISTÓRIA
Boi de balaio
Das muitas já vividas algumas estarão sempre conosco nas nossas lembranças, tantos as tristes quanto as alegres. Claro que as tristes buscamos esquecê-las. Já as alegres, vale apena sejam revividas ou pelo menos relembradas.
Uma delas está ligada às festividades juninas, na verdade começa-se com Santo Antonio, São Pedro e São João.
Aqui em Itabira, sempre tinha a brincadeira do pau-de-sebo e esta não acontecia somente nos meses de junho e julho. Tinha também a dança do Boi-Bumbá, Bumba-meu-Boi ou Boi de Balaio. Isso eu me lembro...
Essas festas sempre começavam com barraquinhas, rezas e novenas anunciadas pelo serviço de alto falante onde também os rapazes dedicavam músicas às mocinhas que caminhando pelas vielas da quermesse andavam faceiras. Seus belos vestidos novos e coloridos eram por certo feitos lá na Dona Lourdinha e Dona Ivone e contrastavam com as bandeirinhas que cruzavam os quatro cantos do local. No centro, um mastro todo enfeitado por fitas e encimado pela bandeira do Santo, o colorido, o brilho dos foguetes e a iluminação forte era como um quadro pintado em cores fortes, como só excelente Zé Assunção sabia pintar.
Nas barraquinhas, além do quentão e da branquinha (Itabira sempre foi local em que se produzia pinga de qualidade) afirmam os degustadores ou beberrões de plantão. Havia o churrasquinho assado na chapa, o pastel vendido na carrocinha puxada pelo Bode Cheiroso do Sô Raimundo Luciano que também não deixava de comparecer às festas populares nem aos jogos do Brasileirinho e do Guarani. Do Valeriodoce, então, nem se fale: era presença certa!
Além do amendoim torrado e da paçoca, o bolo, o pudim-de-pão, o pé-de-moleque e a queijadinha todos disputavam as preferências com leilão de prendas cantado pelo Sô Conrado com a participação do senhor Amaral, pai do Mansueto. Este apresentava os brindes ofertados em homenagem ao Santo do dia, depois os entregava aos arrematadores.
A festa era sucesso garantido, bem como, alguma confusão. Assim os organizadores ficavam atentos para evitar brigas que empanassem o brilho da mesma. “Sempre, o motivo (quer dizer, o desmotivador) das brigas era um mulato bem curtido com mais ou menos meio metro de comprimento que servia “como dizia o Padre Lopão”, pau para desmanchar caroço”.
Os festeiros organizadores podiam contar com as participações do Sô Lourenço a quadrilha (quadria), Ticôco e Sô Briguelo no comando dos marujeiros e congadeiros.
Entre o brilho da fogueira e dos olhos da criançada e os foguetes havia uma brincadeira que coroava os festejos: era a dança do Boi de Balaio ou Bumba-meu-boi.
Esta brincadeira despertava a maior euforia nos presentes, pois os versos entoados pelos participantes faziam o imaginário voar para encontrar a rima perfeita num piscar de olhos.
Depois de réplicas e tréplicas até a exaustão, era chegado o momento em que os espectadores e ouvintes poderiam quem se atrevesse, lançar um novo tema e nova rima.
Eu me lembro um dia o Zôzo, já meio chapado, lançou um desafio:
“Dizem mesmo que este Boi é bravo que não tem medo nem de Onça. Isso eu sei”
O seu oponente aceitando o desafio respondeu:
-se é bravo e medo não tem nem de onça,
- é claro que isto eu não sei, mas, se o Agenor passou a mão no seu rabo!
- com certeza esse boi é viado!
Mal havia acabado de lançar sua réplica no ar, Tio Osório sacudiu-se todo e arrancou o Boi- Balaio engalanado com fitas coloridas até nos chifres e atirando no chão a fantasia, puxou a Peixeira e passando-a no chão arrancava faísca no minério que cobria as ruas da Vila, gritando furioso!
Isso não! Viado não! Só se via gente voando para todo lado como barata na casa de pobre quando se acende a luz.
Esta é uma das muitas histórias que como dizia o Eron Domingues do “Repórter Esso”, “sou testemunha ocular da história.